Grandes Figurinistas

Grandes Figurinistas: Irene Sharaff

segunda-feira, maio 09, 2016


Por Rafaella Britto 

Nenhuma outra figurinista traduziu o glamour e a riqueza da Era de Ouro de Hollywood como Irene Sharaff: com cinco Oscars e um Tony, Sharaff é a segunda figurinista com maior número de prêmios em cinema (atrás somente de Edith Head). Ao longo de mais de meio século de carreira, caminhou entre Hollywood, a ilustração de moda, a pintura, a escultura e a Broadway.  

Irene Sharaff (Foto: Reprodução)

Irene Sharaff nasceu em Boston, Massachussets, em 23 de janeiro de 1910. Sabe-se pouco a respeito de sua origem e primeiros anos. Estudou arte na Parsons School of Design (que, décadas mais tarde, revelaria outros grandes nomes da moda, como Alexander Wang e Marc Jacobs), na Art Students League of New York e, posteriormente, na Académie de la Grande Chaumière, em Paris.

Irene Sharaff (Foto: Reprodução)

Decidida a tornar-se pintora profissional, Irene, inicialmente, trabalhou como ilustradora de moda para a Vogue, Harper’s Bazaar, e outras revistas. Após alguns anos como ilustradora, os caminhos a levaram ao teatro, onde trabalhou como assistente da renomada figurinista Aline Bernstein, na Civic Repertory Theatre Company. Desempenhou seu primeiro trabalho como figurinista na Broadway em 1932, na montagem teatral de “Alice no País das Maravilhas”, produzida e estrelada pela atriz Eva Le Galliene.

"Alice no País de Maravilha", com produção de Eva Le Galliene; neste musical da Broadway de 1932, Irene Sharaff desempenhou seus primeiros trabalhos autorais (Foto: Reprodução)

Sua ascensão na Broadway iniciou em 1934, quando assinou o figurino do número de revista “A Thousands Cheer”. Sharaff criou figurinos em tons amarelo-sépia para lembrar as antigas fotografias do século anterior. A partir de então, trabalhou para companhias de balé como a Ballet Russe de Monte Carlo, Ballet Theater e New York City Ballet.


Sharaff em seu estúdio (Foto: Reprodução)

O olhar apurado de Sharaff chamou a atenção dos produtores de Hollywood, e assim a artista iniciou sua carreira no cinema. No entanto, Irene trabalhou efetivamente somente por quatro anos - de 1943 a 1945 nos estúdios da MGM, e de 1946 a 1948 na RKO. Nos anos seguintes, seus trabalhos foram apenas freelance. (1)

(Foto: Reprodução/Tumblr)

Irene Sharaff fez história nos musicais da Metro: a figurinista aproveitava o recurso do Technicolor para abusar das cores vibrantes. Em entrevista concedida em 1970, Sharaff afirmou que via tudo “em blocos de cor, um pouco como pintar um quadro”. Suas cores favoritas eram vermelho, rosa e laranja, e seu estilo tornou-se marcante pela suntuosidade. Ela, contudo, tinha uma ideia diferente sobre o que era elegância: “Você pode adquirir refinamento e elegância, mas estilo é uma coisa rara”, disse em entrevista de 1967. “As únicas pessoas do teatro que têm estilo são Audrey Hepburn e Betty Bacall. E a única que tinha estilo no maior grau era Gertie [Gertrude] Lawrence. Ela conseguia ser elegante até usando um saco amarrado com um cinto”. (2)

Irene Sharaff nas páginas de revista (Foto: Reprodução)

Sharaff conquistou inúmeros prêmios, e costumava alternar seu trabalho entre Hollywood e a Broadway, muitas vezes desenvolvendo figurinos para as mesmas produções no teatro e no cinema, como “Amor, Sublime Amor” (West Side Story, filme de 1961, adaptado para o teatro em 1964), “Flor de Lótus” (Flower Drum Song, apresentado no teatro em 1958 e levado às telas em 1961) e “Funny Girl” (nos palcos da Broadway em 1964, e no cinema em 1968).

Barbra Streisand em "Funny Girl", 1968 (Foto: Reprodução)

“O Rei e Eu” é, sem dúvidas, um dos mais aclamados trabalhos de Irene Sharaff nos palcos e nas telas: a produção teatral da Broadway, de 1951, estrelada por Gertrude Lawrence, rendeu a figurinista o prêmio Tony de Melhor Figurino. Posteriormente, em 1956, “O Rei e Eu” foi adaptado para o cinema, estrelando Yul Brynner e Debora Kerr. Por este filme, Irene recebeu o Oscar de Melhor Figurino. 


Foi Irene Sharaff quem convenceu Yul Brynner a raspar a cabeça para o papel de Rei de Sião. O sucesso de “O Rei e Eu” invadiu também a alta-costura e o design de interiores: a seda tailandesa, principal tecido utilizado nos figurinos do filme, tornou-se o produto número um no mercado exportador da Tailândia, nos anos 1950.  


Debora Kerr e Yul Brynner em "O Rei e Eu", 1956 (Foto: Reprodução)

Sharaff demonstrou sua versatilidade em diversas produções memoráveis, como “Cleópatra” (1963), para o qual, em colaboração com o figurinista Renié, foram desenhados 26 mil figurinos; “Quem Tem Medo de Virginia Woolf?” (1966), Oscar de Melhor Figurino em 1967; e “Alô, Dolly!” (1969), onde Barbra Streisand usa um vestido inteiramente confeccionado em ouro.

Irene Sharaff e Liz Taylor nos bastidores de "Cleópatra", 1963 (Foto: Reprodução)

Fora das telas e dos palcos, Irene Sharaff esculpia e pintava, além de ser estilista particular de inúmeros astros, dentre eles, Elizabeth Taylor: a figurinista vestiu Liz no dia de seu casamento com Richard Burton, em 1964. O vestido, confeccionado em chiffon amarelo, está na nossa lista dos 25 vestidos de noiva mais icônicos de todos os tempos.

Vestido de Irena Sharaff para Liz Taylor em seu casamento com Richard Burton (Foto: People/Reprodução)

Irene Sharaff faleceu em 16 de agosto de 1993, aos 83 anos, vítima de insuficiência cardíaca congestiva. Seus últimos filmes foram “The Other Side of Midnight” (1977) e “Mommie Dearest” (1981), e na Broadway, sua última produção foi “Jerome Robbin’s Broadway” (1989). Sua carreira soma 40 filmes, 60 espetáculos, 15 indicações ao Oscar e 7 indicações ao Tony. (3) Em sua homenagem, foi criado o prêmio TDF/Irene Sharaff Lifetime Achievement Award, que reconhece o talento de profissionais do figurino para ópera, balé e teatro.

Confira alguns dos principais trabalhos de Irene Sharaff no cinema:


Deborah Kerr em "O Rei e Eu", 1956 (Foto: Reprodução)


Barbra Streisand em "Funny Girl", 1968 (Foto: Reprodução)


Natalie Wood em "West Side Story", 1961 (Foto: Reprodução)

Liz Taylor e Richard Burton em "A Megera Domada", 1967 (Foto: Reprodução)


Liz Taylor em "Cleópatra", 1963 (Foto: Reprodução)


Ethel Merman em "Call Me Madam", 1953 (Foto: Reprodução)


"An American in Paris", 1951 (Foto: Reprodução)

Mary Astor em "Meet Me in St. Louis", 1945 (Foto: Reprodução)

Michael Crawford em "Alô, Dolly!", 1969 (Foto: Reprodução)

Marianne McAndrew em "Alô, Dolly!", 1969 (Foto: Reprodução)

Barbra Streisand em "Funny Girl", 1968 (Foto: Reprodução)

Barbra Streisand em "Funny Girl", 1968 (Foto: Reprodução)

Barbra Streisand em "Alô, Dolly!", 1969 (Foto: Reprodução)

Judy Garland em "Meet Me in St. Louis", 1945 (Foto: Reprodução)

Marianne McAndrew em "Alô, Dolly", 1969 (Foto: Reprodução)

Esther Williams em "Bathing Beauty", 1944 (Foto: Reprodução)

Frank Sinatra em "Elas e Eles", 1955 (Foto: Reprodução)


Liz Taylor em "Cleópatra", 1963 (Foto: Reprodução)


Myrna Loy em "The Thin Man Goes Home", 1944 (Foto: Reprodução)


Cyd Charisse em "Brigadoon", 1954 (Foto: Reprodução)

Barbra Streisand em "Alô, Dolly!", 1969 (Foto: Reprodução)

Faye Dunaway como Joan Crawford em "Mommie Dearest", 1981 (Foto: Reprodução)

Referências:


(2) (3) Irene Sharaff, Designer, 83, Dies;Costumes Won Tony and Oscars – NY Times, 17 de Agosto de 1993.

Foto de abertura: Reprodução

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2 comentários

  1. Que mulher maravilhosa!
    Eu gosto muito do figurino de Cleópatra e A Megera Domada.Não tinha ideia que tinha sido desenvolvido por ela.Simplesmente lindo os figurinos.

    Fiquei com vontade de ver esse filme Alô, Dolly só pelas roupas!

    Beijos ♥

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    Respostas
    1. Veja "Alô, Dolly", Gabi! Tenho certeza que você vai gostar (eu já vi mais de três vezes, é um dos meus musicais prediletos). ♥

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Criado em 2010 por Rafaella Britto, o blog Império Retrô aborda a influência do passado sobre o presente, explorando os diálogos entre arte, moda e comportamento.


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