Por Rafaella Britto
Há
por parte da crítica especializada e também do público uma
concordância geral em que Elis Regina é a maior cantora brasileira de todos os
tempos: a “Pimentinha” – como era conhecida – encantou o mundo com sua voz
possante, singular capacidade dramática, sorriso e personalidade irreverente.
Relembre a vida e o estilo de uma das grandes divas da música popular brasileira.
DE GURIA TÍMIDA A ESTRELA MUNDIAL
Elis
Regina Carvalho Costa nasceu no Hospital Beneficência Portuguesa, em Porto
Alegre, no dia 17 de março de 1945, segundo ela, “num domingo, às 14h10 da
tarde, estragando o café da mamãe”. Desde criança, alimentou o desejo de
cantar, e aprendeu marchinhas de carnaval e tangos de Carlos Gardel. A avó,
percebendo o talento da guriazinha tímida e estrábica, encorajou-a a participar
do “Clube do Guri”, um dos programas de calouros de maior audiência no Rio
Grande do Sul.
Elis em seus primeiros anos como cantora mirim, no Rio Grande do Sul (Fotomontagem/Reprodução) |
Em
entrevista à revista O Cruzeiro, de 1973, Elis descreveu a sensação de se
apresentar pela primeira vez ao grande público, aos 10 anos de idade: “Tentei,
mas não deu. Comi a unha, comi o dedo da luva inteira e não conseguia fazer
nada. Olhava para as pessoas com os olhos esbugalhados, e a voz não saía. Aí
minha mãe ficou com pena, e me levou para casa.”
O carisma da menina atraiu os donos da emissora: Elis foi contratada e tornou-se a principal atração do programa. Aos 14 anos, foi eleita pela Revista do Rádio como a melhor cantora do ano de 1958.
O carisma da menina atraiu os donos da emissora: Elis foi contratada e tornou-se a principal atração do programa. Aos 14 anos, foi eleita pela Revista do Rádio como a melhor cantora do ano de 1958.
Elis adolescente, na capa de uma edição da revista TV Sul (Foto: Reprodução) |
Não
demorou para que fosse convidada a gravar seu primeiro álbum de estúdio pela
Continental. A gravadora, no entanto, queria transformá-la numa nova musa
teen para concorrer com Celly Campello. Elis nunca quis ser a xérox de ninguém, mas não
estava em tempo de rejeitar uma proposta como essa, pois precisava ajudar a
família. Assim lançou, em 1961, o disco Viva a Brotolândia, coletânea de baladinhas
pop-rock adolescentes.
Elis, musa teen do início dos anos 60 (Foto: Reprodução) |
Somente
em 1965, Elis encontrou seu lugar na música: aos 19 anos, deixou Porto Alegre e
mudou-se para o Rio de Janeiro no intuito de iniciar sua carreira como cantora
profissional e prover melhores condições financeiras para sua família. Sua fama
nacional iniciou após vencer o 1º Festival de MPB da TV Record, interpretando a
música “Arrastão”, de Edu Lobo e Vinícius de Moraes.
No
mesmo ano, Elis comandou, ao lado de Jair Rodrigues, o programa de TV “Fino da
Bossa”, que a transformou na maior cantora de MPB do país. Daí por diante,
colecionou sucessos: canções como “O Bêbado e a Equilibrista”, de João Bosco,
tornaram-se hinos pela liberdade durante os anos da repressão militar. Sua
forte presença artística se fez memorável nos discos Falso Brilhante (1976), Transversal do Tempo (1978), e outros. Ao todo, foram 18 álbuns lançados, de
1961 a 1980.
Jair Rodrigues e Elis Regina no programa "Fino da Bossa" - TV Record, 1965 (Foto: Reprodução) |
Sua
vida foi precocemente interrompida em 1982, aos 36 anos, quando foi vítima de
uma overdose de bebida alcoólica e cocaína. O legado de Elis Regina é
preservado e amplamente difundido por seus filhos, o produtor musical João
Marcelo Bôscoli (filho de seu primeiro casamento com o compositor Ronaldo
Bôscoli) e os cantores Pedro Camargo Mariano e Maria Rita (filhos de seu
segundo casamento com o pianista e arranjador César Camargo Mariano).
(Foto: Reprodução) |
Sobre Elis, a cantora Björk, em sua primeira passagem pelo Brasil, na década de 1990, disse:
“Mesmo sem entender exatamente o que ela canta, posso dizer que ela tem coragem
de ir a lugares que, emocionalmente, eu não teria coragem para ir, porque não
sei se conseguiria voltar.”
O ESTILO MENINA-MULHER
Elis
dizia não ser merecedora de quase todos os títulos atribuídos a ela. “Eu nunca
fui precursora de nada”, disse em entrevista à revista Pop, em junho de 1974.
“É essa mania que as pessoas têm de colocar palavras na boca da gente. Eu não
abri nenhum caminho. O que aconteceu foi uma grande dose de sorte, de
coincidência. Eu simplesmente estava sentada diante da porta quando ela se
abriu. Tanto podia ser eu como qualquer outro.” Certamente, a cantora rejeitou
o título de ícone da moda, mas seu estilo inconfundível, que misturava doçura e
rebeldia, permanece como referência fashion
até hoje.
(Foto: Reprodução) |
O estilo de Elis sofreu transformações ao longo dos tempos: durante os primeiros
anos como guria tímida no “Clube do Guri”, vestia-se conforme as orientações de
sua mãe, a costureira Ercy Carvalho Costa, que confeccionava vestidos
enfeitados de rendas e babados para a filha, sempre acompanhados de enormes
laços na cabeça. Conforme Elis crescia, o estrabismo revelou-se mais forte,
obrigando-a a usar óculos.
Foto rara da cantora em sua Primeira Comunhão (Foto: Reprodução) |
A
partir dos anos 60, o estilo da cantora evolui para a moda dos vestidos tubinho
e cabelos beehive. Como apresentadora
do programa “Fino da Bossa”, conquistou sucesso no show business.
(Foto: Reprodução) |
(Foto: Reprodução) |
É
na década seguinte que Elis lança moda com suas roupas de corte reto,
sobrancelhas finas e cabelos curtíssimos à
la Jean Seberg. Durante um breve período, deixou os cabelos crescerem e
apareceu mais maquiada, mas foi o visual despojado e andrógeno que fez da
Pimentinha um ícone fashion copiado
pelas mulheres.
(Foto: Reprodução) |
(Foto: Reprodução) |
O show Falso Brilhante revelou o lado mais performático da cantora: no espetáculo, que permaneceu em cartaz durante um ano e quatro meses, entre 1975 e 1977, Elis decidiu contar sua história através de figurinos elaborados, em uma atmosfera circense.
Atualmente, os figurinos originais, criados pela diretora do espetáculo, Miriam Muniz, e pelo figurinista Naum Alves de Souza, encontram-se perdidos ou não estão em bom estado de conservação. Em abril de 2012, veio a público no Centro Cultural de São Paulo a exposição Viva Elis, que exibiu figurinos do espetáculo Falso Brilhante recriados pelo estilista Fause Haten. “A única dificuldade foi reproduzir alguns bordados, já que as técnicas usadas atualmente são diferentes”, disse o estilista à Revista Época, sobre o processo de reprodução das roupas de Elis.
À direita, figurino do show "Falso Brilhante" representando Elis em sua infância; à esquerda, croqui de Fause Haten (Foto: Divulgação/Revista Época) |
À esquerda, figurino de "Falso Brilhante"; à direita, croqui de Fause Haten (Foto: Divulgação/Revista Época) |
Reproduções dos figurinos do espetáculo "Falso Brilhante", feitas por Fause Haten. As peças foram exibidas ao público em 2012, na exposição Viva Elis, em São Paulo (Foto: Acervo pessoal/Divulgação) |
O ESTILO ELIS EM FOTOS
Confira Elis em imagens incríveis.
Elis em 1965 (Foto: Reprodução) |
Bastidores do show "Falso Brilhante", 1975-1977 (Foto: Reprodução) |
(Foto: Reprodução) |
(Foto: Reprodução) |
Com Jair Rodrigues (Foto: Reprodução) |
(Foto: Reprodução) |
(Foto: Reprodução) |
(Foto: Reprodução) |
(Foto: Reprodução) |
Com Jair Rodrigues (Foto: Reprodução) |
(Foto: Reprodução) |
(Foto: Reprodução) |
Com Tom Jobim (Foto: Reprodução) |
Com Simone no programa "Mulher 80" (Foto: Reprodução) |
(Foto: Reprodução) |
(Foto: Reprodução) |
(Foto: Reprodução) |
Referências:
CALADO, Carlos. Coleção Folha O Melhor de Elis Regina. São Paulo - Editora Mediafashion, 2014.
Parte das fotografias foi extraída das páginas Elis Regina - O Mito, Elis, nada será como antes e Elis cantou pra mim.
2 comentários
Maravilhosa em todos os sentidos! ♥
ResponderExcluirMuito! ♥
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