Por
Larissa Oliveira –
O período
pós-Segunda Guerra Mundial teve forte impacto na cultura americana. A alta sociedade
se esbaldava na prosperidade capitalista consumindo produtos em massa. A
produção Hollywoodiana traduzia os novos valores e costumes por meio de seus
filmes. A elegância das ladylike e a
compostura dos gentlemen era modelo a
ser seguido. O ideal do sonho americano era propaganda fiel da classe mais alta.
Christian Dior vestia as mais exuberantes atrizes de seu tempo. Os vestidos e
saias rodadas, as joias e luvas faziam parte do estilo de personalidades como
Grace Kelly e Rita Hayworth. Ao mesmo tempo em que esses ideais eram impostos,
houve um grupo que se rebelou contra os padrões.
Jovens beatniks (ou hipsters) em Nova York em 1959 (Foto: Burt Glinn/Magnum/ATI) |
A geração
da contracultura perdurou durante as décadas de 1950 e 1960 e seu estilo de
vida foi primeiramente inspirado pelos escritos progressistas da Geração Beat,
um pequeno grupo de escritores que produziu obras que versavam contra as
limitações, as amarras do sistema vigente. Experiências que não corroborassem
com tal sistema partiam de diversas ordens, principalmente da música, da moda e
da literatura.
Jovem beatnik à porta do Gaslight Café em Nova York, 1959 (Foto: Bettmann/Getty Images/ATI) |
No fim da
década de 1950, a Guerra Fria estabelece uma disputa pelo poder entre EUA e
União Soviética. A revista Look lança
uma edição em que o termo Beatnik se
torna popular, numa alusão à ascensão do satélite soviético Sputnik.
Beatniks em Greenwich Village nos anos 50 (Foto: Bettmann/Getty Images/ATI) |
O jazz
que soava nos bairros boêmios era a trilha sonora. A atração pelo estilo de
vida que foge ao materialismo, em que alucinógenos oferecem inspiração para
além da formalidade, em que as roupas demarcam o despojamento contrário à
sofisticação burguesa, foi traduzida no visual dos artistas da época.
Em 1969, a autora beat Diane di
Prima escreveu um relato erótico da sua experiência no movimento intitulado Memoirs of a Beatnik. Desde jovem ela
sabia que não se encaixava nos moldes regulares destinados às mulheres. Sua
poesia era libertária e declamada em bares e locais que mais tarde seriam
popularizados por poetas como Bob Dylan. Sua escrita e sua imagem denotavam
aspectos feministas e, portanto, as mulheres que se expressavam através do
estilo beatnik acabavam desafiando
imposições e transpiravam a transgressão do seu tempo.
A escritora Diane di Prima, autora do livro "Memórias de uma Beatnik", foi uma das principais vozes femininas da Geração Beat (Foto: Reprodução) |
O centro do estilo de vida beatnik era o bairro de Greenwich
Village, em Nova Iorque. Os bares, cafés e ruas eram povoados por artistas,
estudantes e escritores que declamavam sua poesia revolucionária; jovens que
dançavam jazz e folk. Café, cigarros, conversa intelectual, roupas
monocromáticas e óculos escuros tornaram-se marca dos hipsters – nome que
passou a substituir o termo beatnik.
O termo “hipster” já existia e foi visto anteriormente no poema O Uivo, de Allen Ginsberg.
Leitura de poesia em Greenwich Village. Camisas brancas,
pretas e listradas de manga curta eram predominantes entre os homens (Foto: Reprodução)
|
O beatnik entrou em declínio a partir da década de 60, e o
engajamento político foi retratado por outra geração da contracultura: os
hippies.
ESTILO
O visual beatnik é marcado pela androgenia. Desde
boinas e tops com colarinho a camisas listradas e calças pretas, os beats
transmitiam mensagens similares através do estilo.
A cantora Patti Smith (Foto: Reprodução) |
Bob Dylan (Foto: Reprodução) |
Britt Ekland, Michelle Philipps e Edie Sedgwick (Foto: Reprodução) |
A estética
beatnik marcou o início de bandas
como os Beatles, cujo nome foi inspirado nos escritores daquela geração. Para a
capa do álbum With the Beatles (1963),
foi sugerido que a foto fosse inspirada nas imagens preto e branco do aclamado
músico do bebop, John Coltrane. A
gola alta e preta, conhecida como turtleneck
ainda seria vista na capa de Rubber Soul
(1965).
Os Beatles (cujo nome foi uma homenagem aos escritores da Geração Beat) foram responsáveis por popularizar a gola alta conhecida como "turtleneck" (Foto: Reprodução) |
Na parte
feminina, a artista francesa Françoise Hardy foi uma das que mais aderiram às
vestimentas beatnik.
A cantora francesa Françoise Hardy (Foto: Reprodução) |
A
francesa Jean Seberg adotou um corte de cabelo até então considerado masculino
no filme Acossado (1960), de Godard.
Sua personagem também veste listras e calças capri.
O visual beatnik de Jean Seberg em Acossado (dir. Jean-Luc Godard, 1960) (Foto: Reprodução) |
Outra
musa de Godard que apostou no estilo foi Brigitte Bardot. Em Le Mépris (1963), a atriz veste listras
e saia lápis preto. A demarcação da silhueta através das saias e calças de brim
conferiam uma maior liberdade feminina.
Brigitte Bardot em Le Mépris (dir. Jean-Luc Godard, 1963) (Foto: Reprodução) |
Na década de 90, o desenho Doug, da Nickelodeon, trazia a irmã do protagonista Judy Funnie,
como uma adolescente beatnik fora do
seu tempo. Seu estilo era composto por um Beret roxo, camisa de manga longa e
calça preta e óculos escuros. Sua revolta contra o sistema e a cultura do seu
tempo acabou por defini-la como hipster.
Judy Funnie, personagem do desenho "Dougie", é uma beatnik fora de seu tempo (Foto: Reprodução) |
Sobre a autora:
Larissa Oliveira é professora, escritora
e ativista. Apaixonada
pela França, anos 90 e Geração Beat. É editora do zine I Wanna Be Your Grrrl e
escreve sobre música, cinema e literatura em seu blog pessoal. Também mantém um blog no Medium e colabora frequentemente com outras publicações, como Cine Suffragette.
1 comentários
Aprendi um pouco mais.Obrigada.
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