O vaqueiro percorre as pastagens, preenchendo o espaço vazio dos sertões com seus aboios de tristeza e saudade. Sempre montado a cavalo, o cuidador do gado enfrenta diariamente o sol escaldante e a constante seca da caatinga, sem descanso, sem divagações.
Detalhe de peça do uniforme de vaqueiro (Foto: Reprodução) |
(Foto: Reprodução) |
- Chapéu de couro com um barbichado (cordão) preso ao queixo, para não se perder na correria do sertão;
- Gibão (ou véstia), um tipo de paletó o qual o vaqueiro decora com ricos motivos e bordados;
- Guarda-peito ou peitoral, colete de couro usado por baixo do paletó e decorado com pespontos;
- Perneiras, que vão da virilha até o pé; são duas pernas soltas de calça, ajustadas ao corpo e atadas por correias de couro;
- Luvas, para proteger o dorso das mãos contra espinhos; a parte interna consiste em duas tiras de couro, uma prendendo o polegar e outra para o restante dos dedos;
- Sandálias, sendo mais comum um modelo próprio para uso cotidiano, que protege os dedos dos pés. (1)
Traje de vaqueiro confeccionado por Espedito Seleiro; chapéu e gibão de couro (Foto: Reprodução) |
"Sua roupa consistia em grandes calções ou polainas de couro taninado mas não preparado, de cor suja de ferrugem, amarrados da cinta e por baixo víamos as ceroulas de algodão onde o couro não protegia. Sobre o peito havia uma pele de cabrito, ligada por detrás com quatro tiras, e uma jaqueta, também feita de couro, a qual é geralmente atirada num dos ombros. Seu chapéu, de couro, tinha a forma muito baixa e com as abas curtas. Tinha calçados os chinelos da mesma cor e as esporas de ferro eram sustidas nos seus pés nus por umas correias que prendiam os chinelas e as esporas. Na mão direita empunhava um longo chicote e, ao lado, uma espada, metida num boldrié que lhe descia da espádua. No cinto, uma faca, e um cachimbo curto e sujo na boca. Na parte posterior da sela estava amarrado um pedaço de fazenda vermelha, enrolada em forma de manto, que habitualmente contém a rede e uma muda de roupa, isto é, uma camisa, ceroulas e, às vezes, umas calças de Nanquim. Nas boroacas* que pendiam de cada lado da sela conduzem geralmente farinha e a carne assada no outro lado, e o isqueiro de pedra (as folhas servem de mecha), fumo e outro cachimbo sobressalente. A todo este equipamento, o sertanejo junta ainda uma pistola, cujo longo cano desce pela coxa esquerda, e tudo seguro." (2)
Antigas gravuras mostrando vaqueiros (Foto: Reprodução) |
"O seu aspecto recorda, vagamente, à primeira vista, o do guerreiro antigo exausto da refrega. As vestes são uma armadura. Envolto no gibão de couro curtido, de bode ou de vaqueta; apertado no colete também de couro; calçando as perneiras, de couro curtido ainda, muito justas, cosidas às pernas e subindo até às virilhas, articuladas em joelheiras de sola, e resguardados os pés e as mãos pelas luvas e guarda-pés de veado – é como a forma grosseira de um campeador medieval desgarrado em nosso tempo. Esta armadura, porém, de um vermelho pardo, como se fosse de bronze flexível, não tem cintilações, não rebrilha ferida pelo sol. É fosca e poenta. Envolve ao combatente de uma batalha sem vitórias… A sela da montaria, feita por ele mesmo, imita o lombilho rio-grandense, mas é mais curta e cavada, sem os apetrechos luxuosos daquele. São acessórios uma manta de pele de bode, um couro resistente cobrindo as ancas do animal, peitorais que lhes resguardam o peito, e as joelheiras apresilhadas à juntas. Este equipamento do homem e do cavalo talha-se à feição do meio. Vestidos doutro modo não romperiam, incólumes, as caatingas e os pedregais cortantes". (3)
(Foto: Reprodução) |
João Pimenta - Inverna 2010, Casa de Criadores (Foto: Reprodução) |
Ronaldo Fraga - Outono/Inverno 2014, SPFW (Foto: Reprodução) |
2 comentários
Amei o texto! Muito boas referências, parabéns!
ResponderExcluirEspetacular desvendar os costumes.
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