Por Heloísa Iaconis, autora convidada
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Joana, Virgínia, Lóri, G.H., Laura, Ana, Lucrécia, Macabéa e
Ângela: algumas das personagens femininas de Clarice Lispector. Não, números
não cabem aqui; eles não dão conta de contar o que há para ser contado.
Entende? Quantas mulheres, afinal, há em Clarice? Sem perigo de erro, o
resultado: todas. Como? Cada uma que floresce mundo afora. A escritora
brasileira (que, apenas por acaso, nasceu na Ucrânia) entra por debaixo da
pele, aperta feridas e toca no âmago. Despe a alma humana e a coloca ali, nua,
sem máscaras grossas e hipócritas. O feminino aparece, em grande parte de sua
obra, como força motriz e palco, interior e íntimo e vívido, da mulher se
conhecendo enquanto mulher e humana. Ir de encontro às angústias e contradições
intrínsecas ao que é vivo - em cenários, por vezes, rotineiros (mistérios
espreitam o cotidiano). Da juventude ao envelhecer: os escritos clariceanos
acompanham o périplo da menina que, anos mais tarde, ostenta cabeça branca.
Entende? Mais do que ler: sentir as palavras (e as não-palavras) de Clarice é
comer, como massa branca de uma barata, a vida das muitas mulheres que moram ao
seu lado. Das muitas mulheres que vivem em você. Fruir, doce-amargo-amargo-doce,
o próprio eu.
Foto Capa: Reprodução
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