Moda

Os muitos chapéus de Hedda Hopper

domingo, julho 02, 2017



Por Rafaella Britto –


Não é exagero afirmar que Feud já figura entre os clássicos do milênio. Lançada em março deste ano, a série surpreendeu ao revelar os bastidores da histórica rivalidade entre Bette Davis e Joan Crawford. Para além das primorosas atuações de Susan Sarandon e Jessica Lange, Feud entrega impecáveis cenários e figurinos, e alguns elementos, em particular, roubam a cena – dentre eles, os muitos chapéus de Hedda Hopper (interpretada por Judy Davis). Revelamos os segredos da chapelaria da temida colunista de fofocas que foi, mais do que coadjuvante, pilar central no conflito entre as estrelas de O Que Terá Acontecido a Baby Jane?

Da esquerda para a direita: Hedda Hopper com as atrizes Phyllis Povah, Rosalind Russell e Joan Crawford no set de "As Mulheres", 1939 (Foto: Reprodução/Getty Images)


FRACASSO LEVOU ASPIRANTE A ATRIZ AOS BASTIDORES DE HOLLYWOOD

A incursão de Hedda Hopper pelas páginas das colunas sociais adveio de sua frustração: filha de um açougueiro protestante, ainda menina, Elda Furry (seu nome de batismo) deixou a casa dos pais, na Pensilvânia, rumo à Nova York para perseguir o sonho de ser atriz. Sua breve passagem pela Broadway encerrou-se após a fracassada tentativa de ingressar no grupo de coristas do famoso empresário Florenz Ziegfeld, que chamou-a de “vaca atrapalhada”. Elda, então, entrou para a companhia teatral de DeWolff Hopper, com quem se casou e teve um filho, e de quem herdou o sobrenome.

Desiludida nos palcos, Hedda Hopper tentou carreira no cinema (Foto: Reprodução)

A carreira nos palcos não parecia promissora e, em 1916, Hopper trocou o teatro pelo cinema, estrelando o filme The Battle of Hearts. A aspirante a atriz continuou a estrelar curtos papéis até destacar-se no filme Virtuous Wives, em 1918. O que chamou a atenção, entretanto, não foi seu talento dramático, e sim seu guarda-roupa (naquela época era comum que os atores fossem responsáveis pelos próprios figurinos): Hopper investiu 5 mil dólares em vestidos, casacos e chapéus da renomada designer Lucille, que atraíram os olhares da imprensa. “Produtores que não sabiam o meu nome começaram a dizer, ‘Procure saber o nome daquela que fez a mulher rica em Virtuous Wives. Ela vai vestir isso”, contou Hopper em suas memórias From Under My Hat.

O estilo refinado de Hedda Hopper em "Virtuous Wives" chamou a atenção da mídia (Foto: Reprodução)

Em 1923, um ano após divorciar-se do seu primeiro e único marido, Hopper assinou contrato com a Metro-Goldwyn Mayer, realizando papéis esporádicos em filmes pouco aclamados, quase sempre como socialites e jovens mulheres ricas.


RAINHA DA FOFOCA

Atriz sem sucesso, mãe solteira e em dificuldades financeiras, Hopper, durante a Grande Depressão, batalhou para cuidar de seu filho, chegando a entrar para o setor imobiliário e a ensinar inglês para artistas europeus na Paramount. Foi onde, em 1937, aos 52 anos, graças a sua habilidade para inteirar-se de acontecimentos envolvendo estrelas dos grandes estúdios, recebeu a proposta que mudaria sua vida: ela, agora, assinava a nova coluna do jornal Los Angeles Times, Hedda Hopper’s Hollywood.

Aos 52 anos, Hedda Hopper tornou-se a mulher mais temida de Hollywood (Foto: Reprodução)

Rival de Louella Parsons, Hedda Hopper tornou-se conhecida por sua crueza em expor as vidas de grandes celebridades. Sua coluna era capaz de arruinar carreiras: republicana fervorosa, Hopper, durante a era McCarthy, foi braço-direito do Comitê de Atividades Antiamericanas, denunciando atores suspeitos de ligação com o comunismo. Sua língua ferina foi responsável pela expulsão de Charlie Chaplin dos EUA, e pelo – mais conhecido – conflito entre Joan Crawford e a ‘vulgar’ Bette Davis à época de O Que Terá Acontecido a Baby Jane?, como retratado em Feud.

Hedda Hopper foi responsável pela famosa rivalidade entre Joan Crawford e Bette Davis à época de "Baby Jane" (Foto: Reprodução)


VISUAL EXTRAVAGANTE INSPIRA FIGURINOS DE ‘FEUD’

Lou Eyrich, figurinista de Feud, garimpou brechós e boutiques vintage de Los Angeles à procura de acessórios que recriassem o visual extravagante de Hedda Hopper, marcado pelos inúmeros chapéus que se tornaram sua assinatura. Hopper comprava cerca de 150 chapéus por ano, e desfilava com os modelos mais exóticos, decorados com flores, plumas, penas de pássaros, ovos de Páscoa e até réplicas da Torre Eiffel – e quanto maiores, melhores.

Hedda Hopper era conhecida por seus inúmeros e exóticos chapéus (Foto: Reprodução)

Os chapéus de Hedda Hopper eram decorados com plumas, penas e até réplicas da Torre Eiffel (Foto: Reprodução)

“Trabalhei próxima de Ryan Murphy, que sempre teve ideia do que queria antes mesmo de nós começarmos”, contou Eyrich à Elle. A figurinista conta que realizou extenso trabalho de pesquisa para atender às exigências do diretor Ryan Murphy, que queria “cores fortes, chapéus peculiares, com muito movimento, muitas plumas. Um pouco escandaloso.”

A figurinista Lou Eyrich garimpou os melhores brechós e boutiques vintage em Los Angeles para recriar o visual extravagante de Hedda Hopper (Foto: Reprodução)

Embora baseados nos looks de Hedda na vida real, Eyrich buscou adequar os figurinos à silhueta da atriz Judy Davis: “Trabalhamos com seu tipo de corpo e com o que realmente fazia sentido para ela. Houve a possibilidade de sermos muito mais brincalhões e ousados e peculiares... precisamos convencê-la dos chapéus, que eram muito chamativos. Começamos trabalhando na silhueta, e só quando encontramos algo que realmente acentuou sua cintura pequena foi que acrescentamos os chapéus. E ela era a única a dizer, “vamos lá, eles têm que ser mais atrevidos, maiores.”

Eyrich baseou-se nos figurinos de Hopper na vida real e buscou adequá-los a silhueta de Judy Davis (Foto: Reprodução)


Foto Capa: Reprodução

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