Carmen Santos e a construção da personagem feminina brasileira
terça-feira, agosto 25, 2015(Foto: Reprodução) |
“Máscula. Personalidade forte, rígida, imperativa. Movimentos rápidos, incisivos, retangulares. Sem meneios, sem artifícios, sem curvas, sem futilidades. Espírito de decisão, qualidades de chefe. Energia inquieta. Um espírito de general à procura d’um exército... Vontade indomável, intransigente. Uma mulher que caminha como homem, com saltos a Luis XV. Passos largos, firmes, duros, ritmados. Uma linha reta atravessando a multidão, indiferente às calçadas, à chuva e aos homens...”
(Foto: Reprodução) |
Carmen Santos como a personagem Lenita no filme "A Carne" (1924) (Foto: Reprodução) |
Carmen Santos como a personagem Lenita no filme "A Carne" (1924) (Foto: Reprodução/Flickr) |
(Foto: Reprodução) |
Carmen Santos em "Sangue Mineiro", de Humberto Mauro (1929) (Foto: Reprodução) |
Associada ao diretor Humberto Mauro desde “Sangue Mineiro”, Carmen fundou sua produtora, a Brasil Vox Filmes, que, a partir de 1935, veio a se chamar Brasil Vita Filmes. Produziu e atuou nos filmes “Favela dos meus amores” (onde interpreta uma elegante professora da favela que desperta o amor de dois homens), e “Cidade-Mulher” (como a filha de um empresário teatral falido), ambos dirigidos por Mauro.
Carmen Santos em "Cidade-Mulher", de Humberto Mauro (1936) (Foto: Reprodução/Flickr) |
Carmen Santos em "Favela dos Meus Amores", de Humberto Mauro (1935) (Foto: Reprodução/Flickr) |
O fotógrafo Edgar Brazil e Carmen Santos nos estúdios da Brasil Vita Filmes (Foto: Reprodução) |
(Foto: Reprodução/Flickr) |
Carmen era referida como “A Dama” por seus colegas de profissão. A despeito dos estigmas impostos por sua origem de pobre imigrante, a jovem atriz representava a figura da nova condição feminina. Sua personalidade despertava frisson entre homens e mulheres, como descreve o jornalista Afonso de Carvalho em artigo do jornal A Manhã:
“[...] Rude. Inteligência sem jaça, clara, límpida, com uma velocidade de reflexão fulminante. Um talento em revolta permanente contra todas convenções, preconceitos e mentiras sociais. Atitudes e aparências confusas, muitas vezes incoerentes e, às vezes, desconcertantes. [...]. Boníssima e justiceira de sentimento. Simples. Boa. Instintiva. Brutalmente franca. Senhora absoluta da sua vontade. Uma força de domínio absoluto sobre si mesma e de severa autocrítica das suas ações. Tolerante muitas vezes por excesso de bondade. Intransigente por espírito de disciplina moral para consigo mesma. Veio para a vida de baixo para cima, pelo seu próprio esforço, pelo seu trabalho e pela vontade irreprimível de vencer. Hoje, olha o mundo de alto para baixo sem inveja de riquezas, sem ambições e vaidades, comovendo-se apenas no contato da miséria. Máscula. Sincera. Rude. Bondosa.”
Carmen Santos ao lado do cineasta Humberto Mauro (centro) (Foto: Reprodução/Flickr) |
Carmen Santos e sua equipe na produtora Brasil Vita Filmes, dentre eles, o cineasta Humberto Mauro (último, à direita) (Foto: Reprodução/Flickr) |
(Foto: Reprodução/Flickr) |
Carmen Santos como Bárbara Heliodora no filme "Inconfidência Mineira" (1948) (Foto: Reprodução/Banco de Conteúdos Culturais - Cinemateca Brasileira) |
Em "Inconfidência Mineira", estreava nas telas como figurante o então jovem ator Anselmo Duarte. "A Carmen, que era portuguesa, foi uma grande pioneira do cinema brasileiro e terminou destruindo sua carreira por causa da obsessão em contar a história da Inconfidência Mineira", disse Anselmo. "Ela planejou o filme em 1937, começou a filmar em 1939 e só terminou em 1948. Foram muitos problemas, de produção e até de ordem pessoal. Rodolfo Meyer fazia Tiradentes e eu fiz minha estréia no cinema como figurante, sem direito a fala."
Carmen Santos como Bárbara Heliodora no filme "Inconfidência Mineira" (1948) (Foto: Reprodução/Banco de Conteúdos Culturais - Cinemateca Brasileira) |
Carmen Santos e a equipe de produção de "Inconfidência Mineira" (1948) (Foto: Reprodução/Flickr) |
- Fundação Casa Rui Barbosa - Alberto Mattos, Carlos: "Nasce uma estrela"
- Fundação Casa Rui Barbosa - Pessoa, Ana: "Sob a luz das estrelas: Relembrar Carmen Santos"
- Mulheres do Cinema Brasileiro
- Documentário - "Carmen Santos", Jurandyr Passos Noronha
(1969)
- Documentário - "Onde a Terra Acaba", Sérgio Machado (2001)
- CARLOS MERTEN, Luiz. Anselmo Duarte - O Homem da Palma de Ouro. Coleção Aplauso. Imprensa Oficial - São Paulo, 2004
8 comentários
Rafa, que texto genial! Mais parece um artigo científico!
ResponderExcluirConhecia Carmen de nome e por algumas fotos, e foi fascinante descobrir mais sobre ela. Que mulher incrível, à frente do seu tempo. Um exemplo para todas as brasileiras.
Beijos!
Lê
Fico muito feliz que tenha gostado, Lê!
ExcluirBeijos!
Tive o privilégio de assistir ao filme "Argila" agora há pouco com Rafaella - minha brilhante filha!
ResponderExcluirCarmen Santos tem o perfil absolutamente adequado ao artigo.
Carmen Santos é forte, linda, intrigante, inteligente, elegante, audaciosa, sedutora, resoluta e nobre!
Parabéns, Rafinha!
Tive o privilégio de assistir ao filme "Argila" agora há pouco com Rafaella - minha brilhante filha!
ResponderExcluirCarmen Santos tem o perfil absolutamente adequado ao artigo.
Carmen Santos é forte, linda, intrigante, inteligente, elegante, audaciosa, sedutora, resoluta e nobre!
Parabéns pelo texto Rafinha!
Gostei de conhecer Carmen Santos.Ótimo texto.
ResponderExcluirQue bom que gostou! Obrigada!
ExcluirQue texto sensacional! Procurando sobre o filme, achei sua matéria e estou aqui chocada com essa maravilhosidade!
ResponderExcluirRecebemos informações constantes de artistas estrangeiras e, no entanto, tivemos a maior delas entre nós: Carmen Santos. Parabéns por essa linda homenagem.
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