Comportamento

Uma breve história das Pin-ups

segunda-feira, janeiro 08, 2018


Elas são presença constante na cultura alternativa. Hoje embelezam as paredes dos estúdios de tatuagem old school e barzinhos vintage, mas antigamente ficavam penduradas (“pin-up”, em inglês, significa “pendurar”) nos alojamentos dos soldados de guerra. As pin-ups são as figuras mais representativas da década de 1950, mas seu conceito vem de um tempo muito anterior. Nossa colunista Gabriela Lira traz uma breve história dessas mulheres que definiram o ideal de beleza de uma geração.

(Foto: Reprodução/Gil Elvgren)

Por Gabriela Lira –

Não sabemos ao certo qual foi a primeira pintura ou fotografia pin-up da história, mas podemos afirmar que o primeiro modelo de pin-up conhecido surgiu no final do século 19, através dos trabalhos do ilustrador americano Charles Dana Gibson (1867-1944). Gibson foi responsável pela criação das Gibson Girls, personagens ilustradas em jornais e revistas que representavam o ideal de beleza americana baseado no porte nobre, independência e delicadeza. As Gibson Girls foram influenciadoras da moda e beleza e tiveram os seus dias de glória até fins da Primeira Guerra Mundial.

As Gibson Girls, criadas pelo ilustrador Charles Dana Gibson no fim do séc. 19, personificaram o primeiro ideal da beleza americana, sendo, portanto, as primeiras pin-ups da história (Foto: Reprodução)

Com a guerra terminada, os soldados americanos que estavam na Europa voltaram para os Estados Unidos portando calendários, baralhos e demais objetos que traziam consigo um novo tipo de ilustração feminina muito mais provocante que as Gibson Girls, e que rapidamente foram incorporadas às ilustrações americanas. Essas ilustrações europeias, sensuais e ao mesmo tempo cômicas, foram influenciadas notadamente pelo trabalho de Cheri Herouard, ilustrador francês que contribuiu com a revista La Vie Parisienne entre 1916 até meados dos anos 30, embora tenha começado em 1907 e permanecido até 1952.

Ilustração de Cheri Herouard na revista La Vie Parisienne (Foto: Reprodução)

As garotas de Cheri eram magras, com pernas longas e apresentavam pouquíssimas curvas, o perfeito modelo da mulher dos anos 20, que havia abandonado os espartilhos, os vestidos longos, os chapéus de pluma e a silhueta curvilínea da Belle Époque. Além de Cheri Herouard, outros ilustradores como Henry Clive (1882-1960), Maurice Milliere (1871-1946) e Rolf Armstrong (1889-1960) fizeram importantes colaborações para a construção do visual pin-up durante a década de 20.

Ilustrações de Henry Clive, Maurice Milliere e Rolf Armstrong, responsáveis pela estética pin-up dos anos 20 (Foto: Reprodução)

Durante os anos 30 as ilustrações pin-ups começaram a ser usadas maciçamente em propagandas. Podemos destacar dessa época primeiramente o ilustrador americano Enoch Bolles: o artista ficou conhecido por ilustrar as capas da revista Film Fun durante os anos 20 até 1943. As personagens de Bolles eram divertidas, sensuais e ingênuas, geralmente retratadas em poses desastradas e engraçadas.

Ilusrações de Enoch Bolles para a revista Film Fun na década de 40 (Foto: Reprodução)

Outro nome dos anos 30 - e talvez o maior de todos - foi George Petty: o americano conseguiu criar as suas próprias garotas, as Petty Girls, o novo modelo de beleza americana. George ilustrou garotas levemente desproporcionais, com corpo maior do que a cabeça, que logo se tornaram febre nos Estados Unidos.

George Petty foi o principal ilustrador pin-up dos anos 30 (Foto: Reprodução)

Em 1941 um trabalho de Petty com Rita Hayworth na versão Petty Girl foi publicado na revista Time e fez um enorme sucesso. A vida do pintor influenciou o filme The Petty Girl (1950), com direção de Henry Levin, e com Robert Cummings e Joan Caulfield nos papéis principais.

Rita Hayworth retratada por George Petty na revista Time em 1941 (Foto: Reprodução)

Podemos dizer que o período de ouro da estética pin-up foi durante os anos 40 e 50, quando estas alcançaram enorme popularidade. Dessas duas décadas os maiores ilustradores foram Alberto Vargas e Gil Elvgren. Vargas, peruano, viveu a maior parte de sua vida nos Estados Unidos. Ali se desenvolveu como artista e criou as suas próprias pin-ups, baseando-se principalmente na sensualidade feminina, por isso é constante a presença da nudez em suas telas.

O peruano Alberto Vargas foi um dos principais ilustradores das décadas de 40 e 50 (Foto: Reprodução)

Gil Elvgren, considerado o maior ilustrador de pin-ups da história, retratava mulheres perfeitas em seus trabalhos, onde só havia espaço para garotas voluptuosas, com feições delicadas e poses impecáveis. Essa concepção de perfeição o fazia ser extremamente criterioso na hora de escolher modelos e não o impedia de fazer retoques até obter o resultado de uma mulher com beleza ideal aos seus olhos.

Gil Elvgren é considerado o mais influente ilustrador pin-up (Foto: Reprodução) 

Durante os anos 40, com a entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial e o bombardeio japonês na base militar de Pearl Harbor (Havaí), aviões americanos que eram enviados para a Europa passaram a apresentar pin-ups pintadas nas latarias. Era a já conhecida Nose Art, um tipo de pintura em latarias de aviões que surgiu ainda na Primeira Guerra, mas que só se tornou popular mais tarde.

A Nose Art retratava pin-ups em latarias de aviões americanos durante a Segunda Guerra (Foto: Reprodução)

As pin-ups da Nose Art foram influenciadas por modelos fotográficas da época e por grandes estrelas da Velha Hollywood, especialmente Jane Russell, Ann Sheridan, Betty Grable e Ava Gardner. Betty, juntamente com Rita Hayworth e Ann Sheridan, foi considerada a maior pin-up da década de 40, época em que protagonizou seus principais filmes, um deles, inclusive, com temática sobre o universo das pin-ups, The Pin-up Girl (1944). Nesta produção, as pin-ups não eram mais meras ilustrações, mas garotas de carne e osso que participavam em apresentações para o exército americano. Isso mostra o quanto as garotas reais da época já seguiam o estilo de se vestir das pin-ups e como elas foram importantes no maquinário de guerra dos EUA.

Betty Grable, Rita Hayworth e Ann Sheridan: as principais pin-ups da década de 40 (Foto: Reprodução)

Aqui na América Latina o grande pintor de pin-ups foi Jesús Helguera, responsável por retratar a beleza mexicana e exaltar a beleza latino-americana inspirada na mulher do campo.

A latinidade na arte do pintor mexicano Jesús Helguera (Foto: Reprodução)

No Brasil, ainda que não se conheçam muitos ilustradores, podemos mencionar Vicente Caruso, pintor oriundo de uma família proeminente de artistas que adaptou o estilo das pin-ups americanas para o universo de nosso país, especialmente o de São Paulo.

Vicente Caruso buscou retratar pin-ups paulistas e em temas brasilianistas (Foto: Reprodução)

Com a vitória dos aliados na guerra e o estabelecimento da Guerra Fria nos anos 50, cresceu o pensamento conservador nos Estados Unidos. Isso fez com que a estética housewife (dona de casa) entrasse em ascensão, em detrimento da estética pin-up, que lentamente foi se apresentando mais recatada. Os anos 50 são também o declínio das ilustrações: tão populares nas propagandas, elas deram lugar aos anúncios na televisão. A circulação de revistas masculinas como Playboy, criada em 1953 por Hugh Hefner, fez com que as ilustrações pin-up se tornassem menos atrativas.

A estética "housewife" (dona-de-casa) predominou durante a Guerra Fria com a ascensão do pensamento conservador nos EUA (Foto: Reprodução)

Entre 1960 e os meados de 1970 a estética pin-up entrou em um período de estagnação. Isso se deve em boa parte ao fato de que essas duas décadas tentaram romper com os ideais de beleza femininos e apresentaram novos tipos de beleza completamente diferentes do que se havia visto nas pin-ups, décadas atrás.

Bettie Page (Foto: Reprodução)

A retomada do estilo pin-up se dá durante os anos 80 com a popularização de bandas de rockabilly. Essas bandas, além de ressuscitarem os elementos sonoros do rock and roll dos anos 50, também resgataram os elementos estéticos do período. O filme Grease (1978) já preconizava que a década de 1980 teria grande interesse por épocas passadas.

Grease: o revival da estética 50's em fins dos anos 70 (Foto: Reprodução/Elle)

Nos anos 90 a ascensão da artista burlesca Dita Von Teese fez novamente com que pin-ups estivessem em voga, ainda que lentamente. Von Teese foi ganhando o seu espaço na grande mídia e atraindo consigo grande interesse geral pelo glamour dos anos 40 e 50.

Dita Von Teese (Foto: Reprodução)

Outras artistas como Katy Perry, Imelda May, Christina Aguilera e Amy Winheouse também foram importantes difusoras do estilo pin-up nesse começo do século 21.

Katy Petty, Imelda May, Christina Aguilera e Amy Winehouse: reinvenção das pin-ups no século 21 (Foto: Reprodução)


Com a popularização das redes sociais, seguidoras do estilo têm se conhecido por meio da internet e compartilhado informações sobre moda, beleza e comportamento. Ensaios, marcas, sites e vários outros projetos com a temática pin-up estão crescendo dia após dia, assim como o debate sobre a estética pin-up, que não mais se prende em ideais de beleza que buscam a mulher perfeita segundo alguns padrões, mas que é um grande brinde a todos os tipos de corpos e influências estéticas e culturais que podem ser incorporadas ao estilo.

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Sobre a autora:



Gabriela Lira tem 21 anos e é apaixonada por cinema clássico e história da moda. Fã de Alfred Hitchcock e Machado de Assis, tem como algumas de suas maiores inspirações estéticas o glamour da Old Hollywood, o estilo excêntrico das pachucas da década de 40 e as atrizes Jayne Mansfield, Betty Grable e Rita Hayworth. Não dispensa uma boa poesia, uma caixa de chocolates e algumas boas canções do Led Zeppelin. Além de colaborar com o Império Retrô, escreve sobre beleza e estilo vintage em seu blog pessoal.

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Criado em 2010 por Rafaella Britto, o blog Império Retrô aborda a influência do passado sobre o presente, explorando os diálogos entre arte, moda e comportamento.


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