Arte

A moda em Florença, na época do Renascimento

sexta-feira, março 15, 2013

Extraído do livro "A vida de um artista em Florença, na época do Renascimento", de Pauline J. Despois.


Lucas Cranach. Portrait of Princess Sybille of Cleves, Wife of Johann Friedrich the Magnanimous of Saxony, 1520.

Se a arte da tecelagem pôde desenvolver consideravelmente, foi em grande parte graças aos progressos técnicos que tanta fama deram a Florença; a partir do inicio do século XV, os tecelões utilizavam um tear provido de um mecanismo acionado com o pé e conseguiam trabalhar com mais facilidade e rapidez.
Esses instrumentos permitiram, de então em diante, o fabrico de todos os tipos de tecidos de seda: cetins, veludos, tafetás, brocados, etc. Sabemos que certos fabricantes tinham inventado novos tecidos, mas a maioria contentava-se em reproduzir os de origem oriental, como a musselina que era um tule fino fabricado em Mossoul, ou como o balquino, de seda e ouro, manufaturado em Bagdade. (Este último era utilizado nos dosséis que protegiam os cadeirais de reis e imperadores; mais tarde, a palavra baldaquino passou a designar o móvel recoberto desse tecido).
Os tecidos uma vezes eram lisos e outras vezes apresentavam um padrão; os lisos podiam ainda ser ornados com motivos complementares, feitos com pequenas pérolas ou bordados: pássaros, flores de romã ou de cardo, cachos de uvas ou folhas de figueira. Naqueles em que o desenho era tecido os motivos representavam frequentemente flores e folhas. Artistas de renome – como Pollaiolo, e mesmo o grande Botticelli – não hesitaram em pôr o seu talento ao serviço da corporação dos tecelões, para quem desenharam ornatos destinados aos mais belos desses tecidos. Mas ainda, chegaram a ver-se transformados em figurinistas, por ocasião de uma festa da corte ou de Carnaval, para criarem trajos de sonho.


Andrea del Castagno (1421-1457) - Ciclo de afrescos de homens e mulheres famosas, ca.1449-51 (Villa Carducci, Legniai, perto de Florença)

Andrea del Castagno (1421-1457) - Ciclo de afrescos de homens e mulheres famosas, ca.1449-51 (Villa Carducci, Legniai, perto de Florença)

Andrea del Castagno (1421-1457) - Ciclo de afrescos de homens e mulheres famosas, ca.1449-51 (Villa Carducci, Legniai, perto de Florença)

Andrea del Castagno (1421-1457) - Ciclo de afrescos de homens e mulheres famosas, ca.1449-51 (Villa Carducci, Legniai, perto de Florença)

Andrea del Castagno (1421-1457) - Ciclo de afrescos de homens e mulheres famosas, ca.1449-51 (Villa Carducci, Legniai, perto de Florença)

Andrea del Castagno (1421-1457) - Ciclo de afrescos de homens e mulheres famosas, ca.1449-51 (Villa Carducci, Legniai, perto de Florença)

Mas, mesmo sem o concurso dos pintores ilustres, era preciso que os simples desenhadores de modas, assim como os tintureiros e os bordadores, tivessem muito bom gosto e talento, para poderem realizar aquelas maravilhas de harmonia de cor e de estilo que fizeram dos trajos florentinos obras-primas de suntuosidade.
Foi a partir do século XIV que os mais elegantes florentinos lançaram a moda do trajo curto para os homens, estabelecendo assim a diferença entre o vestuário masculino e o feminino. No entanto, ainda que em toda a Europa Ocidental o trajo – masculino e feminino – das classes abastadas seguisse mais ou menos a mesma evolução, criou-se em cada região, e particularmente em Florença, modas locais. É freqüente podermos reconhecer as personagens florentinas em quadros pelas suas mangas tufadas; os homens apresentam-se em capuccio, uma espécie de turbante com uma armação de cortiça; as mulheres usam vestidos com um grande decote quadrado e penteados lisos.

The Return of Odysseus - Bernardino di Betto (1508-09)
Detalhe de Young Woman at her Toillete - Giovanni Bellini (1515)
Retrato de uma Dama - Francesco Salviati Rossi (século 16)
Parnassus (Marte e Vênus), Andrea Mantegna, 1496-97
Antonio Pisanello, The Virgin and Child with Saints George and Anthony Abbot, c. 1450
Detalhe de São João, o Evangelista, na Ilha de Patmos - Domenico Ghirlandaio (ca. 1480-85).
Alessandro Allori. Detalhe do Retrato de Camilla Martelli, 1570.

Entre os artesãos do vestuário não devemos esquecer os retroseiros, que manufaturavam toda a espécie de enfeites, sendo os mais luxuosos feitos á base de ouro e de prata:rendas e franjas, com as quais os florentinos mais ricos, tanto homens como mulheres, ornavam os seus trajos de gala. As franjas não eram aplicadas somente ao fundo dos vestidos e dos mantos, mas também, em ocasiões de grandes cerimônias (visitas reais ou papais), aos caparazões dos cavalos.
Um outro luxo muito apreciado pelos florentinos eram as peles. Iam até à Pérsia buscar peles precisosas. Homens e mulheres mandavam bordar e forrar os seus trajos de gala de pele de arminho ou de esquilo cinzento.
Vejamos, por exemplo, de que se compunha, em 1424, o enxoval de uma noiva florentina: um vestido de seda e de ouro, com pele; um vestido de rosado, forrado de tafetá; um vestido de pano de seda e ouro e seda às florzinha; um vestido cor de fogo desmaiada, forrado de pele de esquilo cinzento; um vestido de pano de seda e ouro, em veludo; uma capa preta; e, por fim, três cintos de prata.
Entre os acessórios de vestuário mais importantes figuravam as luvas de todos os tons, lisas ou bordadas; podiam ser de pano, mas as mais características e muitos apreciadas pelos estrangeiros eram as luvas de pele macia que os luveiros florentinos impregnavam de perfume. Quanto aos sapatos também os fabricavam em pano ou em couro.

Referências:

Livro: A vida de um artista em Florença, na época do Renascimento - Pauline J. Despois

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Criado em 2010 por Rafaella Britto, o blog Império Retrô aborda a influência do passado sobre o presente, explorando os diálogos entre arte, moda e comportamento.


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