50s

Glorificação do "tailleur"

terça-feira, abril 23, 2013

Texto publicado na Folha da Manhã, domingo, 5 de outubro de 1952.

Neste texto foi mantida a grafia original


Desfile para o verão de 52/53
"... e apenas há poesia onde há simplicidade. "Isto é uma opinião de poeta, e os poetas, como se crianças, dizem sempre a verdade. A poesia da simplicidade reinou nesta coisa tão seria que é uma exibição previa de modelos para a proxima estação. Durval exibiu, em sua sala da rua Barão de Itapetininga, apenas o vestuario predileto da paulistana: o desfile foi a glorificação do "tailleur", tão somente".

Começando pela mais absoluta sobriedade, os modelos de linhas retas, com saias justas e pequenos efeitos de cores contrastantes, acentuando a gola ou os bolsos, foram aos poucos tomando audacia e colorido e dinamismo. Os bolsos ficaram maiores, marcando mais a cintura, as saias se alargaram e as golas subiram, e as cores se tornaram mais alegres. Havia sido anunciado o estilo classico e francês, e realmente, a moda apresentada ficou dentro dos moldes tradicionais e da graça francesa. Os enfeites não foram alem de um pouco de pasamanaria colocado com discrição, de alguns pormenores delicados, como naquele "tailleur" de Hermès, de linhas geometricas negras sobre fundo branco.
Um dos conjuntos mais agradaveis foi o de saia preta e casaco amarelo, de inspiração Jacques Fath, em que uma longa fita, amarela, pendia do laço da gravata, em estilo pintor, até abaixo da cintura. Aliás, é de notar a preocupação da moda no momento de marcar, com um pormenor de cor de feitio, a linha abaixo da cintura, como noutro "tailleur" de Jacques Fath, de "shantung" azul-marinho e branco. Ou como noutro modelo de Hermès, em que o recorte em forma de envelope, unico enfeite, estava colocado nessa linhas. Já num modelo de Manguin, em linho branco e azul-marinho, havia duas asas verticais de cada lado do casaquinho: quatro andorinhas brancas sobre mar de tempestade.
E depois, se sucederam os modelos para a tarde ou para a noite, de seda, "faille", gorgorão, tafetá. As saias apresentavam godês amplos, às vezes; ou permaneciam na elegancia classica da saia reta. Houve apenas um modelo em estampado "píed-de-poule", original de Rafael, com manga "raglan" e punhos revirados.
O cinzento foi, talvez, a cor mais repetida no desfile, cinzento de céu de garoa, cinto cor de chumbo, todas as tonalidades da melancolia, que servem para realçar a alegria de um sorriso.
A harmonia dos conjuntos apresentados provinha sempre da singeleza, das linhas felizes. Foi uma agradavel
apresentação de modelos para o verão que se aproxima. Deste verão que já nos manda avisos por seu amigo, o sol, contando que logo vai desmentir a fama da garoa, que vai destronar esta ditadora, substituindo o encanto dos sueteres pelo feitiço bem mais decisivo dos braços nus e dos decotes arrojados.


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