História da arte

Uma breve história das cores na arte

quarta-feira, março 29, 2017



Por Rafaella Britto – Adaptado de uma série de artigos originalmente publicados no site Arte Ref

Há 40 mil anos, foram criados os primeiros pigmentos. Combinando carvão queimado, gordura animal e solo, os artistas criaram uma paleta básica de cinco cores: amarelo, vermelho, preto e branco. As experimentações e a criação de novos pigmentos – como o azul, roxo, verde e amarelo – deram-se através dos diversos movimentos da história da arte, da Renascença ao Dadaísmo. Acompanhe as cores e seus significados ao longo dos tempos.

VERMELHO: UM DOS MAIS ANTIGOS PIGMENTOS AINDA EM USO

1: pintura rupestre retratando um bisão - Caverna de Altamira, Espanha, ca. 15.000-16.500 a.C
2: Busto da rainha Nefertiti - 1345 a.C
3: Vitral do início do séc. 12 na Basílica de São Denis, em Paris, retratando a cena da Anunciação
4: Van Gogh, 'Ramos de Uma Amendoeira em Flor em Vermelho' (ca. 1890)
5: Van Gogh, 'Café À Noite na Place Lamartine' (1888)
6: Cézanne, 'Pierrot e Arlequim' (1888)

Empregado pela primeira vez nas paredes das cavernas pré-históricas, o vermelho, como apontam achados arqueológicos em regiões da China e África do Sul, era utilizado tanto para fins estéticos, para pintar os corpos, como religiosos, simbolizando o sangue em oferenda aos mortos.
Durante o período Neolítico, o pigmento vermelho passou a ser extraído da cochonilha, inseto mais comumente encontrado em árvores da região Mediterrânea. Os antigos denominavam a cor vermelha de escarlate. A tonalidade mais utilizada era o ocre, empregada, também, em itens de louça, estatuaria e decoração.
Para os egípcios, a cor vermelha representava a vida, a saúde e a vitória, e, por esta razão, era frequentemente utilizada para pintar os corpos durante celebrações religiosas. As mulheres egípcias também utilizavam o corante vermelho para pintar os lábios e as faces.
Entre os povos maias, asiáticos e europeus, o vermelho simbolizava a majestade e a autoridade dos impérios. Durante a Era Cristã, os trajes sacerdotais passaram a ser vermelhos, simbolizando o sangue de Cristo.
Entre os séculos 16 e 17, o pigmento vermelho mais popular continuou a ser extraído da cochonilha. Segundo a antropóloga e historiadora Victoria Finlay, no livro A Brilliant History of Color in Art, o corante cochonilha, produzido por indígenas, tornou-se o terceiro produto em valor exportado da América do Sul, durante o período colonial – atrás somente do ouro e da prata. Atualmente, o corante cochonilha ainda é utilizado na produção de batons e esmaltes.
Pintores como Raphael, Rembrandt, Rubens e, posteriormente, Van Gogh, usavam o vermelho para acentuar a intensidade de suas obras. Em carta ao seu irmão Theo, em 1888, Vincent Van Gogh descreve a pintura O Café À Noite na Place Lamartine: “Busquei expressar com vermelho e verde as terríveis paixões humanas. O salão é vermelho sangue e amarelo pálido, com uma mesa de bilhar verde no centro, e quatro lâmpadas de amarelo limão, com nuances de laranja e verde. É uma batalha e uma antítese dos mais diferentes vermelhos e verdes.” [1]

ROXO: UMA COR NOBRE

1: Pintura rupestre retratando cavalos malhados na caverna de Pech Merle, na França. Uma das primeiras evidências do pigmento roxo
2: Tigela egípcia (1550-1450 a.C)
3: Giotto de Bondone, 'Virgem Maria e o Menino Jesus' (1266-1320)
4: Fyodor Rokotov, 'Imperatriz Catarina, A Grande' (1780)
5: Arthur Hughes, 'April Love' (1856)
6: Monet, 'Manhã enevoada no Sena' (1897)

O roxo surge pela primeira vez nas cavernas Neolíticas. O pigmento, produzido a partir de minerais como o hematita e o magnésio, era utilizado para retratar figuras de animais, como os cavalos malhados encontrados na caverna de Pech Merle, na França.
É na Antiguidade, entre os povos fenícios, que o roxo adquire valor nobre: o pigmento, chamado púrpura de tíria, era extraído dos caramujos marinhos. A cor distinguia os cidadãos de altas classes e era amplamente valorizada por não desbotar e tornar-se mais intensa e brilhante quando exposta ao sol. As leis suntuárias proibiam o uso da cor pelos cidadãos comuns e a produção de animais que forneciam a tinta era rigorosamente controlada pelo Império Bizantino.
Em 1464 foi decretado pelo Papa Paulo II que a cor púrpura de tíria não deveria mais ser utilizada pelos sacerdotes. Assim, bispos e arcebispos adotaram o vermelho, simbolizando o sangue de Cristo, e o púrpura de tíria tornou-se comum entre intelectuais.
Entre os séculos 18 e 19, o roxo – especialmente a tonalidade violeta -, devido ao alto custo de sua produção, era ainda uma cor da aristocracia. Membros da alta-sociedade, como a Imperatriz Catarina da Rússia, eram frequentemente retratados em trajes púrpuras ou violetas. A cor era uma dentre as favoritas dos pintores pré-Rafaelitas, que utilizavam-na para criar cenas românticas.
Artistas impressionistas como Claude Monet nutriam grande afeição pela tonalidade violeta. Críticos e historiadores a apontarem este período da história da arte como “violettomania”. “Eu finalmente descobri a verdadeira cor da atmosfera”, disse Monet. “É violeta. O ar fresco é violeta.”
Posteriormente, o violeta tornou-se a cor-símbolo do movimento sufragista, pertencente à Primeira Onda do Feminismo.

PRETO: DO LUTO AO LUXO

1: Renoir, 'Duas Meninas de Preto' (1881)
2: Pinturas rupestres na caverna de Lascaux, França (17.000 a.C)
3: Estátua de Anúbis encontrada na tumba de Tutancâmon
4: Antiga cerâmica grega
5: Retrato de um monge da Ordem Beneditina (1984)
6: Cristo expulsa Lúcifer do Céu em pintura de Duccio di Buoninsegna (1308-1311)

O preto é um dos mais antigos pigmentos existentes. Inicialmente extraído do carvão ou ossos queimados, era amplamente utilizado pelos povos paleolíticos em pinturas nas cavernas.
Para os antigos egípcios, era a cor da fertilidade e simbolizava o deus Anúbis, que assumia a forma de um chacal-de-dorso-negro e protegia dos males e da morte.
Entre os gregos, o preto possuía diferentes significados: ao mesmo tempo em que representava as trevas e o submundo, era uma das cores mais utilizadas pelos artistas, como revelam as cerâmicas trabalhadas em uma técnica bastante particular. As peças poderiam ser decoradas com figuras de pele preta sobre um fundo alaranjado, ou, ao contrário, figuras de pele alaranjada sobre um fundo preto.
Na Idade Média, a cor era comumente associada aos males e ao inferno. São frequentes nas artes medievais as representações do diabo com forma humana e asas e pele negras. Ainda assim, era a cor usada pelos monges da Ordem Beneditina como sinal de penitência.
Entre os séculos 14 e 15, a produção do pigmento atingiu alta qualidade e o preto passou a ser considerado uma cor nobre. Em fins do século 16, a cor preta era usada por quase todos os monarcas da Europa. Foi também a cor do Puritanismo e da Reforma Protestante, que requeria roupas simples, sóbrias e discretas. Teólogos como João Calvino e Filipe Melâncton desaprovavam as ricas cores e decorações dos interiores das igrejas católicas, consideradas por eles como ostensivas e distantes dos valores da humildade e do sacrifício.
Já entre os séculos 18 e 19, com o advento da Revolução Industrial, o terno na cor preta tornou-se a marca do homem ocidental. Artistas como Renoir, Manet, Van Gogh e Doré utilizavam preto para criar efeito dramático em suas obras. Alguns, entretanto, rejeitavam que o preto fosse, de fato, uma cor. Confrontado por esta ideia, Renoir replicou: “O que te faz pensar assim? Preto é a rainha das cores. Sempre detestei o azul prussiano. Tentei substituir o preto por uma mistura de vermelho e azul, mas sempre volto ao preto.” [2] Já Gauguin tinha uma opinião negativa: “Rejeite o preto e aquela mistura de preto e branco que chamam de cinza. Nada é preto, nada é cinza.” [3]
O preto atingiria o status de cor da moda nos anos 1920, quando Coco Chanel introduziu o conceito do “pretinho básico”: um único vestido preto serve para as mais diversas ocasiões, dependendo somente da combinação de acessórios. O conceito tornou-se popular na década de 60, após a fama do vestido vestido preto criado por Givenchy para Audrey Hepburn no filme Bonequinha de Luxo (1961) (leia mais sobre aqui e aqui).

BRANCO: UMA COR E MÚLTIPLOS SIGNIFICADOS

1: Pinturas rupestres na caverna de Chauvet, França (30.000-32.000 a.C)
2: Fra Angelico, 'A Transfiguração' (1440-1442)
3: Mural encontrado em uma tumba egípcia mostra mulheres vestidas de branco (1448-1422 a.C)
4: Retrato de Mary Stuart, Rainha da Escócia, em luto por seu marido, o rei Francis II, que morreu em 1560
5: Interior da Basílica de Ottobeuren, na Bavária (séc. 18)
6: Monet, 'Mulheres no Jardim' (1866-1866)

O branco era um dos pigmentos mais utilizados pelos povos pré-históricos. Pinturas em cavernas paleolíticas, datadas de 30 mil anos A.C., mostram que o pigmento, feito de cálcio e giz, servia como pano de fundo ou mesmo para realçar as figuras retratadas.
No Egito, o branco estava associado à Isis – na mitologia egípcia, a deusa do amor. Por esta razão, os sacerdotes de Isis vestiam-se apenas de linho branco, tecido usado, também, para embalar múmias. Para os antigos gregos, o branco representava o leite materno, que nutria o deus Zeus e todos os seres viventes.
Na Era Cristã, o branco simbolizava a paz, a pureza, a castidade, a virtude e o sacrifício, e tornou-se a cor oficial do Papa. Simbolizava, também, a transfiguração de Jesus, como descrito no evangelho de Mateus 17:2: “Foi transfigurado diante deles; o seu rosto resplandeceu como o sol, e as suas vestes tornaram-se brancas como a luz.”
Até o século 16, era uma cor de luto entre as viúvas da aristocracia.
Entre os séculos 18 e 19, o branco adornava os interiores dos templos, mostrando o poder e a soberania da Igreja Católica.
A cor possui diferentes significados para culturas ao redor do mundo: para os candomblistas, judeus e muçulmanos, é a cor da paz e da purificação; para os hinduístas, representa status social; para os budistas – e também outras culturas religiosas da Ásia -, é uma cor de luto.

AMARELO: A COR DO NASCER DO SOL

1: Pintura rupestre na caverna de Lascaux, França, datada de 17.300 anos
2: Giotto di Bondone, 'O Beijo de Judas' (1304-1306)
3: Jean-Honoré Fragonard, 'A Leitora' (1770-1772)
4: Arte erótica em mural da antiga cidade romana de Pompéia
5: William Turner, 'Nascer do Sol com Monstros Marinhos' (1845)
6: Van Gogh, 'Ramos de Uma Amendoeira em Flor em Amarelo' (ca. 1890)

O amarelo é um dos mais antigos pigmentos da história da arte. Inicialmente, era produzido a partir da argila, e muito utilizado pelos povos paleolíticos, como mostram as figuras encontradas nas paredes da caverna de Lascaux, na França. Estima-se que uma das mais famosas figuras da caverna de Lascaux, um cavalo colorido em amarelo ocre, tenha cerca de 17.300 anos.
Para os antigos egípcios e romanos, o amarelo estava, semelhantemente ao azul, associado à riqueza e acreditava-se que as peles e ossos dos deuses eram feitos de ouro. O amarelo é frequente nas tumbas egípcias e nas artes eróticas dos murais de Pompéia.
A tradição medieval afirma que o discípulo Judas Iscariotes, ao trair seu mestre, Jesus Cristo, vestia uma toga amarela – ainda que a Bíblia não descreva a cor de seu traje. Assim, o amarelo passou a ser associado à heresia e inveja, e servia para distinguir cidadãos não-cristãos (em especial, judeus). Esta associação perdurou ao longo da Renascença e retornou posteriormente, no século 20, quando os judeus da Alemanha nazista tiveram a Estrela de Davi amarela como distintivo.
Entre os séculos 18 e 19, o pigmento amarelo passou a ser produzido utilizando arsênio, urina de vaca e outras substâncias. A cor estava entre as favoritas dos pintores românticos como Jean-Honoré Fragonard e William Turner.
Vincent Van Gogh nutria uma particular afeição pela cor amarela. Em 1888, o pintor escreveu a sua irmã: “Agora estamos tendo um belo calor, um tempo sem vento que é benéfico para mim. O sol, uma luz que, por falta de uma palavra melhor, posso chamar de amarelo, amarelo brilhante, ouro pálido. Que lindo é o amarelo!” [4] 

VERDE: UMA COR VENENOSA

1 e 2: pinturas egípcias retratando Osíris, deus da vida e da vegetação
3: Da Vinci, 'Mona Lisa' (1503-1506)
4: Monet, 'A Lagoa de lírios d'água' (1899)
5: Cézanne, 'Interior de uma floresta' (1880-1885)
6: Jan van Eyck, 'O Casamento de Alnolfini' (1434)

Não há traços de pigmento verde nas pinturas rupestres de cavernas pré-históricas. Entretanto, os povos neolíticos do norte da Europa extraíam o pigmento da folha da árvore de vidoeiro para o tingimento de roupas. Cerâmicas pré-históricas apresentam pinturas em verde em tonalidades mais próximas do marrom, porém não há evidências de como o pigmento era produzido.
No Antigo Egito, o verde estava associado ao renascimento e a regeneração. Não raro, divindades eram retratadas tendo a pele desta cor.
Na Renascença e Idade Média, as classes sociais eram distinguidas pela cor: cinza e marrom eram cores usadas pelos camponeses; o vermelho era a cor da nobreza; e o verde era utilizado por comerciantes, banqueiros e pequeno-burgueses. Assim, sugere-se, pela cor da roupa de Mona Lisa (1503-1517), que ela pertencesse à classe dos comerciantes. A noiva retratada na pintura O Casamento de Arnolfini (1434), de Jan van Eyck, também veste verde.
A partir do século 18, o verde passou a ser considerado uma cor venenosa: em 1775, o químico sueco Carl Wilhelm Scheele criou um pigmento conhecido como verde Scheele, produzido com arsênio tóxico. O corante foi popular durante a Era Vitoriana, embora muitos acreditassem que fosse uma cor perigosa para os artistas. Alguns atribuem a causa da morte de Napoleão Bonaparte, em 1821, ao veneno contido nos papéis de parede verde Scheele que decoravam seu quarto.
Posteriormente, no século 19, foi criado outro pigmento – conhecido como verde Paris – com o qual os pintores impressionistas criaram suas paisagens pinceladas. O corante, porém, também era tóxico, e foi apontado como a causa da diabete de Cézanne e a cegueira de Monet.

AZUL: UMA COR TÃO CARA QUANTO O OURO

1: Conjunto de porcelana chinesa do séc. 18
2: Raphael, 'Alba Madonna' (1510)
3: Vermeer, 'Moça com Brinco de Pérola' (1665)
4: Máscara mortuária de Tutancâmon (1346-1347 a.C)
5: Fechada de um mosteiro construído em Herat, Afeganistão, no séc. 18. Acredita-se que o azul era a cor favorita do profeta Maomé
6: Tonalidade de azul criada na década de 1950 pelo pintor nadadaísta Yves Klein 

No período Medieval, a Virgem Maria era frequentemente retratada vestida em um manto azul. A escolha da cor não era somente devido ao seu simbolismo religioso, mas também seu valor material: o azul foi, por séculos, considerado uma cor nobre, e pintores renascentistas como Rafael utilizavam-na para destacar a imagem da divindade retratada.
Desde a Antiguidade, o custo da lapis lazuli (pedra afegã de onde era extraído o pigmento azul), rivalizava, até mesmo, com o preço do ouro. O custo de importação da lapis lazuli do deserto do Afeganistão ao Egito era caro, e, por isso, os egípcios desenvolveram seu próprio pigmento sintético, produzido a partir do dióxido de silício, cobre e álcali. Da lapis lazuli eram produzidas jóias, objetos cerimoniais, itens de decoração e máscaras mortuárias. Para os egípcios, o azul estava associado ao céu e às divindades.
Tonalidades escuras do azul estavam presentes na decoração de templos bizantinos e ilustrações de páginas do alcorão, pois acreditava-se que era a cor favorita do profeta Maomé.
No século 9, a porcelana chinesa foi amplamente exportada para a Europa, inspirando o estilo de arte Chinoiserie, que caracteriza-se por uma imitação européia das tradicionais técnicas asiáticas de confecção de porcelana.
O azul é destaque em obras como Moça com Brinco de Pérola (1665), de Vermeer.
Nos anos 1950, o pintor neodadaísta Yves Klein criou a tonalidade de azul-escuro que tornou-se sua marca registrada e foi uma sensação nas artes do pós-Segunda Guerra Mundial. Para Klein, “o azul não tem dimensões. Está além das dimensões, enquanto as outras cores, não… Todas as cores despertam ideias associativas específicas, psicologicamente materiais ou tangíveis, enquanto o azul sugere o oceano e o céu, que são, na verdade, a natureza visível do que há de mais abstrato”. [5]

Referências:
[1] Vincent Van Gogh. Corréspondénce general, número 533, citado por John Gage em Practice and Meaning from Antiquity to Abstraction.
[2] HELLER, Eva. Psychologie de la couleur – effets et symboliques, p. 107.
[3] Paul Gauguin, Oviri. Écrits d’un sauvage. Textes choisis (1892–1903). Editions D. Guerin, Paris, 1974, p. 123.
[4] ZUFTI, Stefano (2012). Color in Art, pp-96-97.
[5] Yves Klein palestrando na Sorbonne, em 1959.

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2 comentários

  1. muito legal seu post adorei as referencias de pinturas, tem umas que não conhecia. Arrasa como sempre.
    beijos
    https://cherrycriis.blogspot.com.br

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Criado em 2010 por Rafaella Britto, o blog Império Retrô aborda a influência do passado sobre o presente, explorando os diálogos entre arte, moda e comportamento.


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