Cinema e TV

Os figurinos do Oscar através da história

sábado, setembro 19, 2015

Por Rafaella Britto

Vivien Leigh (1940), Audrey Hepburn (1954) e Lupita Nyong'o (2014) - (Foto: Reprodução)

O Oscar (oficialmente The Academy Awards – Prêmio da Academia) é a mais antiga e midiática cerimônia de premiação do mundo, fundada pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, em 1927, em Hollywood, para homenagear os profissionais da indústria cinematográfica norte-americana. Em mais de oito décadas de exibição, o Oscar oferece, ainda, um espetáculo à parte: os figurinos do red carpet. O tapete vermelho é a mais badalada vitrine da alta-costura, onde reinam os mestres da moda.
Mas nem sempre foi assim: a primeira cerimônia televisionada foi em 1953, somente nos Estados Unidos e Canadá. Nos anos anteriores, o evento não exigia o glamour de âmbito internacional, como visto nos dias de hoje. A primeira entrega do Prêmio da Academia ocorreu em 16 de maio de 1929, no Hotel Roosevelt, em Los Angeles, e durou aproximadamente 15 minutos. Cerca de 250 pessoas compareceram ao local, com custo de entrada de 5 dólares. A primeira premiação foi presidida pelo ator Douglas Fairbanks e pelo diretor William C. deMille.

1929 – 1939

Janet Gaynor foi a primeira atriz a ser agraciada com o Oscar, por sua interpretação em “O Sétimo Céu”. O look casual e confortável escolhido por Gaynor seria impensável no red carpet dos dias atuais – malha de gola Peter Pan, meias e sapatos esportivos. “Sendo o primeiro ano, a Academia não tinha nenhuma formação ou tradição. Se eu soubesse o que isso significaria nos próximos anos, eu ficaria sobrecarregada”, disse a atriz.

1929: Janet Gaynor recebe de Douglas Fairbanks o Oscar de Melhor Atriz por "O Sétimo Céu" - (Foto: Reprodução)

O vestido acinturado de Mary Pickford, com laço e detalhes em pedraria, deixando braços e costas à mostra, tornou-se um dos looks mais rememorados do Oscar. A atriz, uma das estrelas pioneiras do cinema mundial, foi consagrada ainda na década de 1910, por suas inigualáveis madeixas longas e encaracoladas, e por interpretar personagens da literatura infantil. Em 1929, Mary cortou os cabelos, gerando escândalo e repúdio entre os fãs. No mesmo ano, apareceu pela primeira vez no cinema falado como a sensual e incorrigível Norma Besant em “Coquete” – filme pelo qual conquistou seu primeiro prêmio de Melhor Atriz, em 1930.

1930: Mary Pickford - Melhor Atriz por "Coquette" - (Foto: Reprodução)

Os vestidos de Norma Shearer, em 1931, e Helen Hayes, em 1932, seguiram as últimas tendências da moda, que ditava decote enviesado e silhueta demarcada ao corpo.

1931: Norma Shearer - Melhor Atriz por "A Divorciada" - (Foto: Reprodução)

1932: Helen Hayes - Melhor Atriz por "O Pecado de Madelon Claudete" - (Foto: Reprodução)

Em 1935, Claudette Colbert recebeu sua estatueta de Melhor Atriz por "Aconteceu Naquela Noite" (o primeiro filme a vencer as cinco principais categorias dos prêmios Oscar). Colbert, entretanto, havia detestado o filme, e recusou-se a ir à cerimônia de premiação. Ao invés disso, estava indo viajar. No caminho, porém, soube que era a vencedora do prêmio de Melhor Atriz, e, vestindo a mesma roupa com a qual iria viajar (um tailleur de Travis Banton, designer da Paramount), dirigiu-se imediatamente ao local da cerimônia para receber o prêmio das mãos de Shirley Temple. 


1935 - Claudette Colbert recebe de Shirley Temple o Oscar de Melhor Atriz por "Aconteceu Naquela Noite", vestindo tailleur de Travis Banton
(Foto: Reprodução)
  
Em 1938, Luise Rainer recebeu sua estatueta de Melhor Atriz por “Terra dos Deuses” (ela já havia conquistado o título no ano anterior por “Ziegfeld – O Criador de Estrelas”) quase sem maquiagem, e com um vestido inteiramente fechado, de gola alta e mangas longas. “Foi o vestido mais bonito que eu tive”, disse ela. 


1938: Luise Rainer - Melhor Atriz por "Terra dos Deuses" - (Foto: Reprodução)

Em 1939, Bette Davis (Melhor Atriz por “Jezebel”), chamou a atenção pelo elegante vestido preto de tule, cuja gola se assemelhava a uma faixa circular de nuvem.

1939: Bette Davis - Melhor Atriz por "Jezebel" - (Foto: Reprodução)


1940 – 1949

A estatueta do Oscar é originalmente produzida em estanho e folheada a ouro de quatorze quilates. Durante a Segunda Guerra Mundial (1939 - 1945), devido ao racionamento de metais nos EUA, foi confeccionada em gesso e pintada com tinta dourada. Somente após o fim do conflito, a estatueta retornou a sua forma original.
O período foi bastante rico em produções cinematográficas: “...E O Vento Levou” recebeu, ao todo, treze indicações, e Hattie McDaniel tornou-se a primeira atriz afro-americana a ser agraciada com o Prêmio da Academia. 


1940: Hattie McDaniel - Melhor Atriz Coadjuvante por "...E O Vento Levou" - (Foto: Reprodução)

O elegante vestido de Vivien Leigh, de chiffon, estampa de papoulas e dois recortes laterais na cintura (criação da renomada estilista Irene Gibbons) causou frenesi. Vivien Leigh foi considerada a mulher mais elegante do Oscar de 1940.


1940: Vivien Leigh - Melhor Atriz por "...E O Vento Levou" - (Foto: Reprodução)

Nos primeiros anos da década, para adequar-se ao espírito do país, os participantes da Academia solicitavam trajes em tons discretos, como os vestidos rendados de Ginger Rogers, em 1941, e Joan Fontaine, em 1942. 


1941: Ginger Rogers - Melhor Atriz por "Kitty Foyle" - (Foto: Reprodução)

1942: Joan Fontaine - Melhor Atriz por "Suspeita" - (Foto: Reprodução)

A autoria dos exuberantes vestidos de Olivia de Havilland, em 1947, e Loretta Young, em 1948, é desconhecida. 


1947: Olivia de Havilland - Melhor Atriz por "Só Resta Uma Lágrima" - (Foto: Reprodução)

1948: Loretta Young - Melhor Atriz por "Ambiciosa" - (Foto: Reprodução)


1950 – 1959

A alegria do pós-guerra marcou presença no red carpet do Oscar, na década de 1950. Em 1953, houve a primeira premiação televisionada. O New Look de Christian Dior devolveu às mulheres a feminilidade, com saias amplas, cinturas demarcadas, e acessórios de luxo como joias e luvas. Vivien Leigh, eternizada em 1939 como Scarlett O’Hara em “...E O Vento Levou”, conquistou sua segunda estatueta em 1952, por sua interpretação de Blanche DuBois no aclamado “Uma Rua Chamada Pecado”. 


1952: Vivien Leigh - Melhor Atriz por "Uma Rua Chamada Pecado" - (Foto: Reprodução)

Audrey Hepburn, a musa de Hubert de Givenchy, tornou-se a bela da cerimônia de 1954, ao exibir um vestido do estilista, adornado de delicadas flores, em perfeita harmonia à ingênua sensualidade da atriz.

1954: Audrey Hepburn - Melhor Atriz por "A Princesa e o Plebeu" - (Foto: Reprodução)

Edith Head, a poderosa figurinista de Hollywood, oito vezes vencedora do Prêmio de Melhor Figurino, tornou-se a consultora oficial do evento. É dela a criação do vestido de seda usado por Grace Kelly na cerimônia de 1955, denominado por Head de “blue Champagne”.  


1955: Grace Kelly - Melhor Atriz por "Amar é Sofrer" - (Foto: Reprodução)

Em 1957, Ingrid Bergman (Melhor Atriz por "Anastásia") compareceu ao Oscar esbanjando beleza natural, com pouquíssima (ou nenhuma) maquiagem, e vestida de maneira simples e discreta.


1957: Ingrid Bergman - Melhor Atriz por "Anastásia" - (Foto: Reprodução)

Joanne Woodward (Melhor Atriz por "As Três Máscaras de Eva"), em 1958, encantou ao desfilar o esvoaçante vestido verde de tafetá, desenhado por ela própria. Segundo a atriz, foram duas semanas para que o vestido fosse confeccionado, e o custo foi de $100 dólares.

1958: Joanne Woodward - Melhor Atriz por "As Três Máscaras de Eva" - (Foto: Reprodução)

No mesmo ano, Miyoshi Umeki foi a primeira atriz asiática a ser agraciada com um Oscar por sua atuação, e, para a cerimônia de premiação, vestiu o tradicional quimono.

1958: Miyoshi Umeki - Melhor Atriz Coadjuvante por "Sayonara" - (Foto: Reprodução)

1960 – 1969

Entre os destaques do Oscar da década de 1960, estão o vestido Dior amarelo-pastel florido de Elizabeth Taylor, e o ousado e criativo conjunto de calça e terninho de paetê de Barbra Streisand, de autoria do estilista canadense Arnold Scassi.


1961: Elizabeth Taylor - Melhor Atriz por "Butterfield 8" - (Foto: Reprodução)


1969: Barbra Streisand - Melhor Atriz por "Funny Girl" (Foto: Reprodução)

Para receber a estatueta de Melhor Atriz por “Mary Poppins”, em 1965, Julie Andrews apostou em um vestido liso, de alças e corte reto. 


1965: Julie Andrews - Melhor Atriz por "Mary Poppins" - (Foto: Reprodução)

Julie Christie, em 1966, exibiu um vestido dourado de gola alta, que, segundo o LA Times, teria sido inteiramente confeccionado por ela mesma.


1966: Julie Christie - Melhor Atriz por "Darling - A Que Amou Demais" - (Foto: Reprodução)

1970 – 1979

O glamour do red carpet da década de 1970 teve em Elizabeth Taylor seu símbolo máximo: o vestido azul, criação de Edith Head, confeccionado em chiffon, exaltou a sensualidade e contrastou harmonicamente aos olhos violeta e pele bronzeada da atriz. A paixão por joias fez-se notar em seus acessórios luxuosos: envolto ao pescoço, um colar de diamantes, presente do marido, o ator Richard Burton. 


Liz Taylor no Oscar de 1970, vestindo criação de Edith Head - (Foto: Reprodução)

Em 1978, Farrah Fawcett desfilou seus cabelos “wind blow”, (literalmente, “soprado pelo vento”) trajada em um vestido dourado de Stephen Burrows.

Farrah Fawcett veste Stephen Burrows no Oscar de 1978 - (Foto: Robert Cumming/Reprodução)

A autêntica energia da década foi traduzida no divertido e ousado figurino de Diane Keaton (Melhor Atriz por “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa”), e imediatamente, mulheres ao redor dos EUA inspiraram-se na silhueta andrógena da personagem Annie Hall (com gravatas, coletes, camisas e calças cáqui), que, por sua vez, foi inspirada no estilo de Diane Keaton na vida real.


1979: Diane Keaton - Melhor Atriz por "Noivo Neurótico. Noiva Nervosa" - (Foto: Reprodução)

1980 – 1989

Os anos 1980 foram marcados por momentos fashion bastante icônicos. No entanto, foi Cher (Melhor Atriz por “Moonstruck”, 1987) quem roubou a cena exibindo um dos figurinos mais provocativos da história dos Oscars: a criação total black de Bob Mackie compunha-se de uma tanga e top de lantejoulas, capa de caxemira, e um chapéu feito de penas de galo. 

1988: Cher - Melhor Atriz por "Moonstruck" - (Foto: Reprodução)

Em 1989, Demi Moore causou controvérsias entre fashionistas por seus shorts de academia e bustiê rendados, arrematados por uma capa bordada. O figurino, design da própria atriz, é listado entre os piores já desfilados no red carpet.  

Demi Moore no Oscar de 1989, vestindo criação própria - (Foto: Reprodução)

1990 – 1999

Após o “deslize” cometido por Demi Moore em sua tentativa no design de moda, Kim Besinger revelou-se outra estilista amadora (e fracassou): a atriz desenhou seu próprio figurino para a cerimônia de 1990 – um vestido branco de cetim, com decote assimétrico, bordados dourados e saia ampla. 


Kim Besinger vestindo criação própria no Oscar de 1990 - (Foto: Reprodução)

Nicole Kidman, em 1997, revelou-se ícone da alta-costura, ao exibir-se com vestido de John Galliano para Dior. 


Nicole Kidman veste Dior no Oscar de 1997 - (Foto: Reprodução)

Sharon Stone demonstrou habilidade no conceito clássico de elegância: “Nosso estilo reflete o que pensamos sobre nós mesmos”, disse. A saia de Vera Wang, combinada a uma camisa branca casual, revelou, novamente, que não é necessário gastar fortunas para estar charmosa.


Sharon Stone veste saia de Vera Wang e camisa branca casual, no Oscar de 1997 - (Foto: Reprodução)

Em 1999, Gwyneth Paltrow (Melhor Atriz por “Shakespeare Apaixonado”) tornou-se sensação na cultura popular por seu magnífico vestido cor-de-rosa de Ralph Lauren. 


1999: Gwyneth Paltrow - Melhor Atriz por "Shakespeare Apaixonado" - (Foto: Reprodução)


2000 – 2009

A excêntrica Björk fez sua estreia no tapete vermelho do Oscar em 2001, indicada ao Prêmio de Melhor Canção Original por “Dance In The Dark”. Na ocasião, trajava um vestido de cisne de Marjan Pejoski, que, posteriormente, inspiraria sátiras e trajes de Halloween. 


2000: Björk - Melhor Canção Original por "Dance In The Dark" - (Foto: Reprodução)

Julia Roberts tornou-se a bela da cerimônia de 2001: vestida em um modelo autenticamente vintage de Valentino, conquistou a beleza atemporal das estrelas da Era de Ouro de Hollywood. Para Valentino, Julia Roberts foi o ponto-auge de sua carreira. 


2001: Julia Roberts - Melhor Atriz por Erin Brockovich - Uma Mulher de Talento - (Foto: Reprodução)

Em 2002, Halle Berry, a primeira afro-americana a conquistar o Oscar de Melhor Atriz, resplandeceu no figurino de Elie Saab, de bordados floridos e saia carmesim. 


2002: Halle Berry - Melhor Atriz por "A Última Ceia" - (Foto: Reprodução)

Em 2005, o vestido azul royal de Hilary Swank, de Guy Laroche, quando visto de frente, possuía aspecto conservador, porém, de costas, adquiria caimento dramático, e a atriz foi considerada entre as mais bem vestidas de toda a história dos Oscars. 


2005: Hilary Swank - Melhor Atriz por "Menina de Ouro" - (Foto: Reprodução)

Em 2009, Anne Hathaway, vestida em Armani, consolidou-se como rainha do glamour da atualidade.

Anne Hathaway veste Armani no Oscar 2009 - (Foto: Reprodução)

2010 – 2015

A atriz Lupita Nyong’o (Melhor Atriz Coadjuvante por “12 Anos de Escravidão”), eleita a mulher mais bela do mundo em 2014, surge como símbolo de elegância, e inaugura a fase da valorização da beleza genuína pela indústria. “Não há sombra para essa beleza”, disse, em seu discurso acerca da aceitação da beleza negra, no evento Essence Black Women, em Hollywood. Lupita encantou no vestido azul-celeste da Prada.


2014: Lupita Nyong'o - Melhor Atriz Coadjuvante por "12 Anos de Escravidão" - (Foto: Reprodução)

Na cerimônia do Oscar de 2015, Lupita exibiu o badalado vestido no valor de 150 mil dólares, adornado de 6000 pérolas, assinado pelo estilista brasileiro Francisco Costa para Calvin Klein. Segundo informações do jornal inglês LA Times, após a cerimônia, o vestido foi roubado. O suposto ladrão teria furtado a peça quando notou uma porta aberta no quarto do hotel onde a atriz estava hospedada. Pouco depois do incidente, o ladrão devolveu a peça, afirmando que as pérolas empregadas no vestido eram falsas. 


Lupita Nyong'o veste Francisco Costa para Calvin Klein no red carpet do Oscar 2015 - (Foto: Reprodução)

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2 comentários

  1. Eu quero o vestido da Olivia de Havilland pra ontem! E o da Anne Hathaway também!
    E meu deus, como eu amo a irreverência da Bjork <3

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Criado em 2010 por Rafaella Britto, o blog Império Retrô aborda a influência do passado sobre o presente, explorando os diálogos entre arte, moda e comportamento.


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