Cinema

As influências artísticas nos figurinos de “Último Tango em Paris”

quarta-feira, dezembro 16, 2015

Por Rafaella Britto

Maria Schneider e Marlon Brando em "Último Tango em Paris" (Bernardo Bertolucci, 1972) - (Foto Reprodução)

O filme “Último Tango em Paris”, de 1972, é listado entre as obras-primas do cineasta italiano Bernardo Bertolucci: o drama erótico-psicológico narra a história de Paul (Marlon Brando), um americano de meia-idade de luto pela morte da esposa, que se encontra com Jeanne (Maria Schneider), uma garota ingênua e de espírito livre, em um apartamento anunciado para aluguel, em Paris. Os dois passam a ter relações sexuais sem trocar qualquer informação sobre suas vidas – nem mesmo seus nomes. A jovem Jeanne vê-se dividida entre a relação edipiana com Paul, e seu noivo Tom (Jean-Pierre Léaud), um pretensioso cineasta de sua idade, tudo acompanhado de uma trilha sonora jazzística.

O estilo boho-chic de Maria Schneider em "Último Tango em Paris" - (Foto: Reprodução)

Considerado um dos maiores filmes da história do cinema, diversos elementos contribuíram para seu sucesso mundial – destaque para a brilhante interpretação de Marlon Brando, que lhe rendeu indicações ao Oscar e ao BAFTA de Melhor Ator. Devido ao forte apelo à perversão sexual, “Último Tango em Paris”, à época de seu lançamento, não escapou aos ditames da censura: na Itália, foi lançado em 1975, e Bernardo Bertolucci foi processado por obscenidade e condenado a quatro meses de prisão. Somente em 1987, o filme pôde ser finalmente exibido em solo italiano; na Grã-Bretanha, o tempo de duração da cena de sodomia foi diminuído; o governo brasileiro, no auge do regime militar, liberou a exibição do filme em 1979; e no Chile, sob a ditadura de Augusto Pinochet, “Último Tango” foi proibido durante trinta anos. Mais tarde, Maria Schneider acusou Marlon Brando de tê-la violentado durante as filmagens, e declarou que “Último Tango” arruinou sua carreira.

O estilo boho-chic de Maria Schneider em "Último Tango em Paris" - (Foto: Reprodução)

Não seria temeridade afirmar que um elemento significativo para o sucesso do filme foi o guarda-roupa de Jeanne, criado pela italiana Gritt Magrini: o estilo boho-chic da personagem é o arremate da fotografia de Vittorio Storaro (que já havia colaborado com Bertolucci em “O Conformista”, 1970), que apresenta clara influência do pintor Francis Bacon, conhecido por seus retratos do grotesco e do pesadelo humano. Os créditos de abertura incluem duas obras de Bacon: “Double Portrait of Lucien Freud and Frank Aeurbach” e “Study for a Portrait”. “Depois de O Conformista eu tive um momento de crise; - disse Storaro - eu fiquei me perguntando: o que pode vir depois do azul-celeste?... Eu não tinha a menor ideia de que um filme laranja estava para nascer. Nós precisávamos de um novo tipo de emoção... e foi o caso de Último Tango.”

Pinturas de Francis Bacon nos créditos de abertura de "Último Tango em Paris" - (Foto: Reprodução)

A fotografia é “rica [em] cinza fresco e leve, branco gélido, e ocasionalmente vermelho combinado às escolhas de Bertolucci por marrom suave, amarelo escuro, e branco com delicados matizes de rosa” (Tonetti, 127). Durante a pré-produção, Bertolucci visitou exposições de Bacon em Paris. Segundo ele, as cores do pintor anglo-irlandês o lembram Paris no inverno, quando “as luzes das lojas estão acesas, e há um lindo contraste entre o cinza do céu invernal e o calor das vitrines... a luz nas pinturas foi a maior fonte de inspiração para o estilo que estávamos procurando.”

Semelhanças entre a obra de Francis Bacon e a fotografia de "Último Tango em Paris" - (Foto: Reprodução)

Em sua primeira aparição, Jeanne está vestida em um longo casaco branco enfeitado de plumas, semelhante a uma das pinturas de Bacon utilizadas como referência para a fotografia do filme. Da mesma maneira, as expressões de Paul são semelhantes aos autorretratos de Bacon: o pintor retratava a si mesmo vestido em um sobretudo marrom, aspecto também presente no figurino de Brando ao longo de quase todo o filme. Bertolucci “queria comparar Brando às figuras humanas de Bacon porque eu senti que, como elas, o rosto e o corpo de Marlon eram caracterizados por uma estranha e infernal plasticidade. Eu queria que Paul fosse como as figuras obsessivas de Bacon: rostos devorados por alguma coisa que vem de dentro.”  

Marlon Brando como Paul em "Último Tango em Paris" e autorretrato de Francis Bacon - (Foto: Reprodução)

Os looks de Maria Schneider inspiraram (e inspiram) editoriais de moda e fashionistas pelo mundo: de cabelos encaracolados sob um chapéu fedora enfeitado de flores e olhos demarcados de preto, Jeanne desfila um vestido curto de cinto decorativo e estampa étnica, combinado a botas de couro de cano-alto, casaco de plumas e bolsa franjada; em outras ocasiões, camisas, coletes, paletó, cachecol, lenço no pescoço, jeans boca-de-sino, crochê e cintura alta. Jeanne cultiva um visual 70’s chique e despojado, perfeito para sua vida dupla. 

(Foto: Reprodução)

(Foto: Reprodução)

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