Cinema e TV

Moda das novelas: "Carinhoso" (1973)

sexta-feira, abril 22, 2016

Por Rafaella Britto


“Um brinquedo perigoso. O destino brincando e jogando com gente. Uma mulher à espera de um homem... carinhoso”. Com este letreiro, a TV Globo anunciava os próximos capítulos de “Carinhoso”. A novela, exibida de julho de 1973 a janeiro de 1974 no horário das 19h00, foi escrita especialmente para Regina Duarte – especialista em personagens românticas e sofredoras -, e tornou-se um dos grandes sucessos da atriz.

Regina Duarte em "Carinhoso", 1973 (Foto: Reprodução)

A trama de Lauro César Muniz foi livremente inspirada em “Sabrina” (1954), filme de Billy Wilder estrelado por Audrey Hepburn, William Holden e Humphrey Bogart. Em “Carinhoso”, acompanhamos o drama da jovem Cecília (Regina Duarte), a filha do criado de uma rica família carioca. Cecília cresceu ao lado dos filhos dos patrões, Humberto (Cláudio Marzo) e Eduardo (Marcos Paulo), por quem se apaixona. Eduardo, porém, é imaturo e não consegue levar a sério o relacionamento, que sofre forte oposição por parte da família dele devido à origem humilde de Cecília. Frustrada e disposta a esquecer sua paixão, ela decide dar um futuro a sua vida: começa a trabalhar como aeromoça e vai morar em Nova York, onde conhece o empresário argentino Santiago Morales (Herval Rossano). Três anos depois, Cecília decide retornar definitivamente ao Rio de Janeiro para estar perto de seu pai e de seus amigos, e reconquistar o coração de Eduardo.

Eduardo (Marcos Paulo) e Cecília (Regina Duarte), protagonistas da novela "Carinhoso", 1973 (Foto: Reprodução)

Os dois, no entanto, terão de enfrentar muitos obstáculos para fazer sobreviver o seu amor: a família de Eduardo se opõe a união dele com a filha do criado. Santiago, o rico empresário que se apaixonara por Cecília em Nova York, Marisa (Débora Duarte), ex-namorada de Eduardo, e o irmão mais velho dele, Humberto, que esconde uma paixão secreta por Cecília, farão de tudo para separar o casal. Cecília vê-se dividida entre os dois irmãos. Ao final, percebe que Eduardo não passa de um eterno adolescente, e que o amor de sua vida é Humberto.

Humberto (Cláudio Marzo) e Cecília (Regina Duarte) - "Carinhoso", 1973 (Foto: Divulgação/Globo)

“Carinhoso” foi a 12ª “novela das sete” e o quarto trabalho da parceria entre Regina Duarte e Cláudio Marzo, que já haviam feito par romântico em “Véu de Noiva” (1969), “Irmãos Coragem” (1970) e “Minha Doce Namorada” (1971).


Produzida em preto e branco, “Carinhoso” é considerada uma das novelas mais românticas dos anos 1970. Daniel Filho, diretor de supervisão, escreveu em seu livro “O Circo Eletrônico”: “Carinhoso teve esse nome porque a gente resolveu colocar a música do Pixinguinha como abertura. Boni estava profundamente apaixonado pelo excelente trompete que tocava Márcio Montarroyos e saímos em busca de um título, que tinha que ser romântico. Boni disse: ‘Por que não Carinhoso?’”


Cecília (Regina Duarte), Humberto (Cláudio Marzo) e Marisa (Débora Duarte), personagens de "Carinhoso", 1973 (Foto: Acervo de Orias Elias/Astros em Revista)

O figurinista Carlos Gil já havia entrado para a história da TV Globo anos antes, por seu trabalho em novelas como “A Cabana do Pai Tomás” (Hedy Maia, 1969), “Pigmalião 70” (Vicente Sesso, 1970), “A Próxima Atração” (Walther Negrão, 1970) e “Uma Rosa com Amor” (Vicente Sesso, 1972). Em “Carinhoso”, a caracterização visual de Cecília foi inspirada em Audrey Hepburn – influência vista, sobretudo, em sua maquiagem, corte de cabelo e penteados (*). Cecília é simples e romântica: em seu guarda-roupa, estão presentes os vestidos tubinho e peças de modelagem simples, como blusinhas e saias monocromáticas. Em alguns capítulos, Cecília aparece vestindo batas floridas, chapéus de abas largas e calças ao estilo hippie.



A namoradinha do Brasil não foi a única a lançar moda e cativar o público com seus dramas de amor: o triângulo amoroso vivido por Rosamaria Murtinho, Fúlvio Stefanini e Cláudio Cavalcanti também conquistou o público. Para viver a secretária Ivone, amiga de Cecília, Rosamaria Murtinho tingiu os cabelos de loiro. Seu guarda-roupa é composto por peças que seguem as últimas tendências da moda setentista – minissaias e vestidos curtos.



Por sua sensível atuação, Regina Duarte recebeu o Troféu Imprensa de Melhor Atriz em 1973, porém recusou o prêmio e dedicou-o a Eva Wilma, que concorria por sua interpretação das gêmeas Rute e Raquel na novela “Mulheres de Areia”.
“Carinhoso” teve de ser concluída antes do prazo, pois Regina Duarte estava grávida e já não era mais possível esconder a barriga que abrigava sua primeira filha, a também atriz Gabriela Duarte. A novela foi reexibida duas vezes: a primeira logo após seu término, às 13h30, e a segunda, no mesmo horário, entre setembro de 1978 e maio de 1979.
Para quem ficou curioso, o primeiro capítulo da novela “Carinhoso” está disponível no YouTube e outros trechos podem ser conferidos no site Memória Globo.

Referências:

(*) ARRUDA, Lilian. Entre tramas, rendas e fuxicos: o figurino na teledramaturgia da TV Globo. Memória Globo – Rio de Janeiro, 2007.

Imagens extraídas dos acervos disponíveis nos blogs Astros em Revista e Regina Duarte - Namoradinha do Brasil

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5 comentários

  1. Amei reviver uma novela tão marcante da minha adolescência. Meu ídolo Claudio Marzo desempenho um papel impecável como um homem fino, educado e carinhoso (Fiquei arrasada com a morte dele no ano passado). A linda Regina como sempre era e é maravilhosa até hoje e a bonequinha da Débora Duarte, fazendo um papel fantástico como a doente Marisa. O elenco foi de peso, lembro de Marco Nanini, a Celia Bia, enfim. Uma pena nõa termos imagens melhores sobre esta grande produção. Parabéns!
    www.brasildobem.net

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    1. Muito obrigada, Janeisa, fico muito feliz que tenha gostado! Cláudio Marzo foi impecável em tudo o que fez, e ele e Regina formavam um casal lindo. Elenco fantástico e uma novela deliciosa.

      Beijos,
      Rafaella.

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  2. Eu não sei porque essa novela quase não tem capítulos no youtube. Eu adorei essa novela. Pena que no final o amor não venceu, pois o que motivou toda a história, que foi o par amoroso Cecília Eduardo. no final não se concretizou.

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    1. É uma pena mesmo, uma novela tão gostosa, só o primeiro capítulo está disponível na íntegra. Mas acho que, no final, o amor venceu, sim. Cecília percebeu que não era Eduardo a quem ela amava, mas Humberto.

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