Moda

Evil glamour: a ousadia boêmia de Anita Pallenberg

sexta-feira, junho 16, 2017


Por Rafaella Britto –


Na última terça-feira (13), o mundo despediu-se de Anita Pallenberg. Modelo, atriz e uma das principais ‘it girls’ das décadas de 1960 e 1970, Pallenberg era o rock ‘n’ roll em sua essência. Quem a visse nos dias de hoje, aos mais de 70 anos, colhendo morangos e feijões em sua residência no distrito londrino de Chiswick, mal poderia imaginar seu passado agitado de musa underground: a verdadeira criadora do boho-chic revolucionou não apenas o guarda-roupa dos Rolling Stones, como também o nosso. Relembre a vida e o estilo de Anita Pallenberg.

(Foto: Reprodução)


LADY ROLLING STONE

Durante a infância, Anita deixou Roma – onde nasceu, em 6 de abril de 1942 – e mudou-se para a Alemanha com a família. De ascendência germânica e italiana, já muito cedo era fluente em cinco idiomas. Rebelde, aos 16 anos foi expulsa de seu colégio por “mau comportamento”. Abandonou a vida de estudante e, depois de uma temporada com a turma de Andy Warhol em Nova York, tornou-se modelo em Paris.

Em 1965 um amigo levou-a a um show dos Rolling Stones em Munique e conseguiram uma maneira de invadir o backstage da banda. Foi onde a modelo conheceu o baixista e membro-fundador Brian Jones. “Eu resolvi sequestrar o Brian”, contou. “Brian parecia ser o mais sexualmente flexível”.

Anita Pallenberg e Brian Jones (Foto: Reprodução)

Os dois permaneceram juntos por dois anos, porém Brian tornava-se a cada dia mais paranoico e agressivo. Em uma viagem ao Marrocos, em 1967, Keith Richards viu Anita ser agredida por Jones e, imediatamente, levou-a de volta à Inglaterra. “A primeira vez que eu vi Anita, pensei ‘o que diabos uma menina dessas está fazendo com Brian?’”, contou Richards. “Anita tinha uma personalidade muito mais forte, mais confiante, sem reservas, enquanto Brian era cheio de dúvidas.” A modelo, então, trocou o líder pelo guitarrista, com quem teve três filhos.

Anita Pallenberg trocou o líder Brian Jones pelo guitarrista Keith Richards, pai de seus três filhos (Foto: Reprodução)

Em entrevista à jornalista Lynn Barber, do The Guardian, Anita relembrou os primeiros anos ao lado dos Stones: “Sempre amei blues e o Brian, especialmente, era um verdadeiro blues man. Era mais do que simplesmente pop. Eu os achava ótimos, sabe? Naquela época. Hoje não tenho certeza! Alguém como Keith, ele tem futuro porque ele consegue ser um blues man até os 90 anos, ele pode arranhar a guitarra e cantar as músicas dele e as pessoas vão sempre ouvir; mas toda essa coisa pop, não estou interessada.”

Jane Fonda e Anita Pallenberg no filme Barbarella (1968) (Foto: Reprodução)

Durante a década de 1960, Anita incursionou, também, pelo cinema, sendo mais lembrada como a vilã de Barbarella (1968), clássico de Jane Fonda. Participou de filmes do circuito alternativo como a comédia erótica Candy (1968), com Marlon Brando e Richard Burton, e Performance (1970), com Mick Jagger. Rumores afirmam que Anita envolveu-se com Jagger durante as filmagens de Performance, porém a atriz negou. “Queriam que eu e Jagger fôssemos um casal em todo tipo de filmes, mas eu não quis”, acrescenta.  

Com Mick Jagger no filme Performance (dir. Nicolas Roeg e Donald Cammel, 1970) (Foto: Reprodução)


IMPACTO NA MODA


Pallenberg refletiu em seu estilo a atitude, a liberdade e o hedonismo característicos das décadas de 1960 e 1970: naturalmente loira, sempre com pouca – ou nenhuma – maquiagem, a modelo esbanjava sensualidade em seus conjuntos de botas e minissaias, shorts e sandálias, e tinha a notável habilidade de combinar calças boca-de-sino em estampa animal print com camisas de seda amarrotadas, que poderiam ser de Jones ou de Richards. Plumas também eram suas queridinhas.

(Fotomontagem/Reprodução)

(Fotomontagem/Reprodução)

(Fotomontagem/Reprodução)

(Fotomontagem/Reprodução)

(Fotomontagem/Reprodução)

(Fotomontagem/Reprodução)

Seu impacto sobre os Rolling Stones não deve ser ignorado: mais do que uma ‘groupie’, Pallenberg foi influência definitiva para a banda, que remixou faixas do álbum Beggars Banquet (1968) após suas críticas. Hits como ‘Gimme Shelter’ e ‘You Got the Silver’ tiveram-na como inspiração. Anita foi, ainda, backing vocal na gravação original de ‘Sympathy for the Devil’.

A revolução estética dos Rolling Stones também deve-se a ela: foi Anita quem os convenceu a substituírem os ternos sessentinhas pelos chapéus floppy e estampas psicodélicas, chegando, ela mesma, a lhes emprestar peças de seu guarda-roupa. Em sua autobiografia Vida, Keith Richards escreve: “Eu comecei a me tornar um ícone de estilo por usar as roupas da minha mulher.”

Keith Richards: "Eu comecei a me tornar um ícone de estilo por usar as roupas da minha mulher" (Fotomontagem/Reprodução)

(Fotomontagem/Reprodução)

(Fotomontagem/Reprodução)

A cantora Marianne Faithfull, ex-esposa de Mick Jagger e amiga de longa data de Anita Pallenberg, em sua biografia Faithfull, completa: “A história de como Anita veio a estar junto de Brian [Jones] é a história de como os Stones se tornaram os Stones. Ela quase sozinha causou uma revolução cultural em Londres ao juntar os Stones e a jeunesse dorée [juventude dourada].”  
Anita Pallenberg influenciou estilo do Stone Brian Jones (Fotomontagem/Reprodução) 

No início da década de 1990, Anita retornou à vida acadêmica e concluiu o curso de graduação em têxtil e moda na Central Saint Martins. Entretanto, ela escolheu não seguir a carreira de designer. “Não gosto do mundo da moda”, contou ao The Guardian. “É muito desagradável, muito exploratório, muito difícil. E agora tudo é Gucci e Prada, é muito difícil fazer seu próprio negócio. Na verdade, eu quis trabalhar com têxteis; fui à Índia por seis meses e trabalhei em Jaipur. Mas aí minha mãe ficou doente e precisei cuidar dela por cinco anos. Então aquele momento passou e parei minha carreira. Mas eu teria ficado em Jaipur para sempre – estávamos produzindo têxteis orgânicos e passando a maior parte do tempo no deserto.”

Embora fosse uma das mais famosas e influentes modelos de sua geração, Anita considerava-se longe de ser uma top model. “Nunca! Não, não, não. Eu poderia viver disso e foi basicamente o que eu fiz, mas eu não era como as modelos de hoje. Eu não gostava muito dos fotógrafos, não gostava do mundo da moda. Continuo não gostando.”

Anita Pallenberg e Marianne Faithfull na década de 1990 (Fotomontagem/Reprodução)

Anita poderia não gostar do mundo da moda, porém o mundo da moda gosta – e muito! – de Anita: a influência de seu estilo é vista nas ruas e nas passarelas, sendo designers e personalidades como Kate MossAlexa ChungStella McCartney, entre outros, seus admiradores declarados. Personagem enriquecedora da contracultura, Anita Pallenberg teve sua vida tragicamente marcada pela dependência de drogas, falecendo aos 75 anos, no ostracismo. 
Esperamos que a história da moda reconheça – com justiça – uma de suas mais marcantes personalidades. 


Foto Capa: Reprodução

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Criado em 2010 por Rafaella Britto, o blog Império Retrô aborda a influência do passado sobre o presente, explorando os diálogos entre arte, moda e comportamento.


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