O famoso galã do cinema mudo, Rodolfo Valentino, encantou as mulheres de seu tempo por seu charme tímido, timbre de barítono e sotaque ítalo-americano. Sua amiga, a atriz Gloria Swanson, costumava dizer que Rudy tinha um “sotaque delicioso”, e outras personalidades que conviveram com o astro concordavam com ela. Margaret Mitchell (autora de “...E O Vento Levou”), disse, certa vez: “Ah, a voz dele! Era o seu charme. Baixa e rouca, com um sotaque sibilante incrivelmente fácil de se ouvir (...) Certamente, se Valentino tivesse vivido, ele poderia transitar para o cinema falado, provavelmente nos mesmos papéis que já desempenhava”.
"Kashmiri Love Song" (Pale Hands I Loved) foi composta no ano de 1902 pela chilena Amy Woodforde-Finden, baseada em poema de Laurence Hope (pseudônimo da poetisa inglesa Adela Florence Nicolson). "Kashmiri Love Song" foi uma das mais populares canções de todo o mundo até a Segunda Guerra Mundial.
Poucos atores do cinema mudo sobreviveram à mudança dos tempos, uma vez que desenvolviam a pantomima e habilidades corporais, em detrimento das vocais. A “queridinha da América”, Mary Pickford, obteve algum sucesso em sua estreia no cinema falado, conquistando o Oscar de Melhor Atriz por “Coquete” (1929). Já Douglas Fairbanks recebeu a novidade dos talkies sem grande entusiasmo, pois suas habilidades atléticas declinaram – em parte devido ao excessivo consumo de cigarro pelo ator. Juntos, Mary Pickford e Doug Fairbanks (à época, casados) realizaram alguns filmes que não cativaram as audiências do período pré-código Hays. A mais conhecida empreitada do casal no cinema falado é a adaptação da comédia shakespeariana “A Megera Domada” (Taming of the Shrew), de 1929, dirigida por Sam Taylor.
A qualidade vocal da ‘it’ girl Clara Bow (cuja carreira encerrou-se em 1933) nos filmes falados “The Wild Party”, “Dangerous Curves” e “The Saturday Night Kid” (ambos de 1929) foi aclamada pelo público. Bow, no entanto, como a maioria dos artistas do cinema mudo, considerava o cinema falado uma arte menor: “Eu odeio cinema falado... é rigoroso e limitante. Você perde muito da sua fofura, porque não há chance de ação, e ação é a coisa mais importante para mim”.
Clara Bow em cena de "Dangerous Curves" (Lothar Mendes, 1929):
Charles 'Buddy' Rogers esbanja talento como cantor no musical "Follow Thru", de 1930 - o segundo filme da Paramount Pictures a ser inteiramente filmado em Technicolor.
Lillian Gish teve sucesso razoável no início do cinema falado, uma vez que sua imagem cândida e ingênua, e interpretação dramática, passaram a ser caracterizados, nas sarcásticas palavras de Louise Brooks, como “parvos, antiquados e assexuados”. O produtor Louis B. Mayer tencionava criar um escândalo publicitário para reavivar a carreira de Gish, porém a atriz recusou-se e retornou a sua grande paixão: o teatro. Durante a década de 1930 e início de 1940, Lillian fez poucas aparições no cinema. No teatro, as mais aclamadas interpretações de sua carreira neste período foram a de Ofélia, na peça “Hamlet”, de Shakespeare, e Marguerite em “A Dama das Camélias”, de Alexandre Dumas Filho. A atriz reapareceu nas telas em 1946, no western “Duelo ao Sol”, protagonizado por Gregory Peck e Jennifer Jones. Gish interpreta o sublime papel da senhora Laura Belle McCanles, pelo qual conquistou uma indicação ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante.
Lillian Gish na comédia dramática "His Double Life" (Arthur Hopkins, 1933):
Em 1937, Pola Negri demonstrou sua potência vocal no filme alemão "Tango Notturno" (dirigido por Fritz Kirchhoff), interpretando a canção "Ich hab' an dit gedatch", composta por Hans-Fritz Beckman e Hans-Otto Borgmann. O papel de Pola fora inicialmente destinado a Marlene Dietrich, porém a polaca soube interpretá-lo com maestria, e a canção-tema tornou-se um hit em sua voz.
A inesquecível Louise Brooks pôs ponto final a sua carreira cinematográfica após o lançamento de seu primeiro filme falado, o drama policial “O Drama de Uma Noite” (“The Canary Murder Case”, 1929), estrelado por William Powell. A película foi inicialmente filmada como um filme mudo e, posteriormente, dublada. Sob o pretexto de que não tinha obrigações com a Paramount, Brooks recusou a oferta de $ 10.000 para dublar sua personagem, e retornou a Alemanha para trabalhar novamente ao lado do cineasta G.W. Pabst (por quem foi dirigida “A Caixa de Pandora”, tornando-se um mito eterno do cinema). A Paramount ameaçou envolvê-la em escândalos, dizendo que ela jamais poderia voltar a trabalhar em Hollywood, ao que a musa - de língua afiada - reagiu: “Quem quer trabalhar em Hollywood?”. Em “O Drama de Uma Noite”, sua voz foi dublada pela atriz Margaret Livingston.
Greta Garbo em cena de "Grand Hotel" (Edmund Goulding, 1932):
0 comentários