Grandes Figurinistas

Grandes Figurinistas: Adrian

sexta-feira, setembro 09, 2016


Por Rafaella Britto 

Adrian utilizava as telas do cinema como sua principal vitrine: ao longo de sua breve, porém prolífica carreira, produziu os figurinos de clássicos da década de 1930, dentre eles, O Mágico de Oz. Embora nunca tenha sido vencedor de um Oscar, Adrian consagrou-se como um dos maiores figurinistas da história de Hollywood.    


Adrian e Greta Garbo (Foto: Reprodução)

Adrian Adolph Greenburg nasceu em Nayagatuck, Connecticut, em 3 de março de 1903. Descendente de imigrantes russos, cedo demonstrou interesse pela arte. Em 1920, aos 17 anos, ingressou na New York School for Fine and Applied Arts (hoje Parsons Schools of Design). Dois anos mais tarde, transferiu-se para o campus de Paris, onde travou contato com artistas como Erté, renomado ilustrador e figurinista, e o compositor americano Irving Berlin, de quem tornou-se parceiro profissional.


Adrian na década de 1930 (Foto: Reprodução)

De volta à Nova York, Adrian produziu figurinos para o espetáculo de Irving Berlin The Music Box Revue, na Broadway. O talento promissor do jovem artista chamou a atenção de Natacha Rambova, que encontrava-se na plateia. Esposa do ator Rodolfo Valentino, Rambova despontava como a mais famosa figurinista de Hollywood e convidou Adrian a colaborar com sua produção A Sainted Devil (1924). No ano seguinte, Adrian vestiu as atrizes Myrna Loy no filme What Price Beauty?, Vilma Banký em The Eagle e Nita Naldi em Cobra.


Adrian no cinema mudo: Rodolfo Valentino em "A Sainted Devil" (1924), Vilma Banky em "The Eagle" (1925) e Nita Naldi em "Cobra" (1925) (Fotomontagem/Império Retrô)

De 1926 a 1928, Adrian trabalhou para o cineasta Cecil B. DeMille em seu estúdio independente, e, logo após, foi contratado pela Metro Goldwyn-Mayer, onde, durante anos, ocupou o posto de figurinista-chefe. Inicialmente, era creditado como Gilbert Adrian, nome artístico criado em homenagem a seu pai, Gilbert. Mais tarde, tornou-se apenas Adrian.


Na MGM, Adrian consolidou-se como um dos mais talentosos designers de sua época e conquistou atrizes como Joan Crawford, Greta Garbo (a quem vestiu durante a maior parte da carreira da atriz), Norma Shearer, Jean Harlow e Jeanette MacDonald. Seu estilo era marcado pela silhueta militarizada – que tornou-se a marca registrada de Joan Crawford – e a constante utilização de tecidos como seda e tafetá. “Adrian não tinha medo de testar novos estilos surpreendentes ou se divertir com um design”, escreveu Margaret Bailey em The Glorious Glamour Years. (1)


Adrian com Greta Garbo e Norma Shearer (Fotomontagem/Império Retrô)

Adrian é responsável pelo design moderno do chapéu Eugénie: acessório fashion no século 19, o chapéu Eugénie recebeu este nome graças a principal lançadora da tendência, a imperatriz Eugénie de Montijo, esposa de Napoleão Bonaparte. Em 1930, Adrian ditou o retorno da peça à moda no filme Romance, com Greta Garbo.


O chapéu Eugénie, popular no século 19, voltou à moda em 1930 com o design de Adrian para Greta Garbo no filme "Romance" (Fotomontagem/Império Retrô)

Criativo, Adrian, mesmo em produções de época, procurava acrescentar seu toque moderno e pessoal. Exemplos disto são os figurinos de Maria Antonieta (1938): Adrian viajou à França e Áustria colhendo os melhores materiais para a confecção das peças – até então, as mais caras da história do cinema , muitas das quais possuíam bordados impossíveis de serem enxergados a olho nu. Os trajes foram, posteriormente, utilizados em outras produções, e, atualmente, compõem acervos de museus e coleções particulares.


Norma Shearer em "Maria Antonieta" (1938). Para a confecção das peças deste filme, Adrian viajou a França e Áustria colhendo os melhores materiais. Os vestidos possuem bordados impossíveis de serem enxergados a olho nu (Fotomontagem/Império Retrô)

O Mágico de Oz foi um de seus maiores sucessos: inicialmente filmada em preto e branco e posteriormente colorizada, a fantástica história de Dorothy (Judy Garland), a menina do interior que é transportada às terras do Mágico de Oz, permitiu a Adrian abusar da imaginação. 


Em "O Mágico de Oz" (1939), Adrian abusa da imaginação (Foto: Reprodução)

Em 2011, os famosos sapatos vermelho-rubi de Dorothy foram postos a leilão por um preço estimado entre 2 e 3 milhões de dólares. Os sapatos foram comprados no início de 2012 por Leonardo DiCaprio e Steven Spielberg e devolvidos a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas.


Em 2011, os sapatos vermelho-rubi de Dorothy (Judy Garland) foram postos a leilão por um preço estimado em 2 e 3 milhões de dólares, e comprados dos Leonardo DiCaprio e Steven Spielberg (Foto: Reprodução)

Dentre os trabalhos de Adrian, um merece especial destaque: a comédia romântica The Women (1939), que reúne as maiores estrelas femininas do cinema da década de 1930. Neste filme, originalmente em preto e branco, prestigiamos a exuberância de Adrian em um desfile de moda em Technicolor. O designer apresenta influências do surrealismo de Elsa Schiaparelli.


Referência em moda, "The Women" (1939) apresenta as maiores estrelas femininas da década de 30: Joan Crawford, Rosalind Russell, Norma Shearer e Paulette Goddard (Foto: Reprodução)


Em "The Women", Adrian apresenta influências do surrealismo de Elsa Schiaparelli (Fotomontagem/Império Retrô)


O "broche d'oiel" desenvolvido por Schiaparelli em parceria com Jean Cocteau pode ser visto no figurino de Rosalind Russell (Fotomontagem/Império Retrô)

Em 1939, Adrian casou-se com a atriz Janet Gaynor, com quem teve um filho, Robin. O casamento foi alvo da indústria de fofocas, que acreditava que a união entre os artistas era apenas fachada para esconder suas respectivas homossexualidades.


Boatos diziam que o casamento entre Janet Gaynor e Adrian era fachada para esconder suas respectivas homossexualidades (Foto: Reprodução)

Adrian deixou a MGM em 1941 e fundou seu próprio ateliê de alta-costura. Robert Riles, autor de American Fashion, escreve: “Durante os dez anos da Adrian Ltd., particularmente durante os anos da guerra, ele foi um dos designers americanos capazes de fazer uma declaração individual. Sua influência era sentida em cada showroom e loja do país; seus casacos e seus vestidos de crepe foram copiados e vendidos a todos os preços.” (2)


Os designs de Adrian estavam entre os mais copiados nos EUA (Fotomontagem/Império Retrô)

Adrian retornou aos estúdios somente em 1952, para um último filme, o musical Lovely to Look At. O designer adquiriu uma fazenda no interior de Goiás, para onde ia constantemente com sua família. Faleceu em 1959, aos 56 anos. Sua morte é controversa: acredita-se que tenha morrido em decorrência de um ataque cardíaco e outras fontes alegam a hipótese de suicídio.
A categoria de Melhor Figurino foi integrada ao Oscar em 1948, de maneira que Adrian nunca foi indicado ao prêmio. A Academia, entretanto, reconhece suas contribuições para a arte cinematográfica. Sua obra abarca mais de 250 filmes.


Confira outros trabalhos de Adrian:


Greta Garbo em "A Woman of Affairs" (1928) (Fotomontagem/Império Retrô)


Greta Garbo em "Anna Christie" (1930) (Fotomontagem/Império Retrô)

Greta Garbo em "Anna Karenina" (1935) (Fotomontagem/Império Retrô)

Greta Garbo em "Camille" (1936) (Fotomontagem/Reprodução)

Greta Garbo em "Camille" (1936) (Fotomontagem/Reprodução)

Jean Harlow em "Dinner at Eight" (1933) (Fotomontagem/Império Retrô)

Joan Crawford e Greta Garbo em "Grand Hotel" (1932) (Fotomontagem/Império Retrô)

Joan Crawford em "Letty Lynton" (1932) (Fotomontagem/Reprodução)

Greta Garbo em "Mata Hari" (1933) (Fotomontagem/Reprodução)

Judy Garland em "O Mágico de Oz" (1939) (Fotomontagem/Império Retrô)

Katharine Hepburn em "The Philadelphia Story" (1941) (Fotomontagem/Império Retrô)

Greer Garson e Laurence Olivier em "Orgulho e Preconceito" (1940) (Fotomontagem/Reprodução)

Norma Shearer em "Private Lives" (1931) (Fotomontagem/Reprodução)

Greta Garbo em "Rainha Cristina" (1933) (Fotomontagem/Reprodução)


Referências:


(1) (2) Vintage Fashion Guild – Fashion History: Adrian (acesso em 2 de setembro de 2016)

Foto de abertura: Reprodução

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Criado em 2010 por Rafaella Britto, o blog Império Retrô aborda a influência do passado sobre o presente, explorando os diálogos entre arte, moda e comportamento.


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